quarta-feira, abril 25, 2012

O Nosso Suco

Tem coisa melhor que um suco de laranja espremida na hora com dois cubos de gelo, no balcão da padaria? No café da manhã do domingão? Ressuscita qualquer espírito. Vitamina C, azedume e doçura na medida certa, sempre um sabor ligeiramente diferente do último. O epicentro da indústria da laranja é o estado de São Paulo. É uma máquina de fazer dinheiro. Os plantadores de laranja no Brasil receberam no ano passado de 12 a 15 reais para cada caixa de 40 Kg. Seja no suco da padoca ou no suco no Tetrapack, a margem de lucro sempre foi imensa. E visto que nossa economia cresce, e mais gente pode gastar, estamos tomando mais suco de laranja que nunca. Pra fazer em casa é baratinho, mas demanda tempo e há que dar fim no bagaço depois, e gera um custo de energia. Tem lugar que cobra dois reais, tem lugar que cobra oito, ou mais, dependendo do frescor ou frescura do ambiente. Por que então este ano a caixa de laranjas que valia R$ 12 vai cair pela metade, ou até chegar a R$ 3, segundo analistas? Por que a laranja está em crise? O que vai acontecer com as cidades paulistas cujas economias giram em torno da laranja? E, principal para gente como a gente, nosso suquinho de todo dia vai cair de preço também? A explicação oficial: tem veneno no seu sucoNa safra 2011/2012, tivemos produção recorde de laranja. Nesta nova, teremos de novo uma superprodução. As empresas de suco de laranja estão com os estoques bem fornidos. Como vem mais um monte de suco por aí, elas não precisam se preocupar em garantir o suprimento a preço bom. E o mercado externo está em queda. A responsabilidade principal é do governo americano. Mais da metade do suco de laranja consumido nos EUA é produzido no Brasil. Mas os Estados Unidos decidiram barrar a entrada de cargas de suco com Carbendazim, um fungicida muito usado. Isso espantou o consumidor americano. As vendas de suco brasileiro nos EUA caíram. Os citricultores pediram um ano e meio para se adaptarem a estas novas exigências. Basicamente, vão ter que trocar por agrotóxicos mais caros. Com os quais os americanos não encrencam. Por enquanto. Uma grande ironia!!! Os produtores brasileiros gastam uma boa grana em agrotóxico para aumentar a produtividade, e agora que ela cresceu muito, a super oferta jogou os preços lá embaixo. Que frescos esses gringos, hem? Bem, testes em laboratório indicam que altas doses de Carbendazim podem causar infertilidade. Na Austrália deu escândalo. Altíssimas doses têm consequências seríssimas. Há caso de criança nos Estados Unidos que nasceu sem olhos, após a mãe ser exposta a uma dose alta de Benlate, parente do Carbendazim. Os países ricos decidiram que seu sucão de laranja, amigo, está envenenado. É questão de política comercial? Os testes são precisos? Tem lobby na jogada? Li hoje no jornal: um terço da produção de laranjas pode apodrecer no pé em 2012, simplesmente porque, com estes preços tão baixos, não valerá a pena colher. Tem algo muito errado com o mundo.

terça-feira, abril 10, 2012

Falta Meritocracia

Segundo a mitologia grega, Sísifo era um rei justo e astuto que se envolveu em uma confusão com os Deuses e acabou levando a pior. De todos os personagens da mitologia grega, a ele parece ter sido reservado o pior castigo: foi condenado a empurrar uma pedra até o topo de um monte, soltá-la, descer ao pé do monte e repetir tudo de novo. Eternamente. Castigo considerado pior que a morte. Sísifo simboliza o trabalho inútil. Ele é a versão mitológica do enxugador de gelo. Ele representa todas as pessoas que, não sendo produtivas, estão sempre ocupadas. Sísifo ajuda a entender porque organizações com excesso de funcionários são tão improdutivas. É trabalho que não gera valor, nem tem mérito. Em 1955 foi publicado pela “The Economist” um artigo com o titulo “A lei de Parkinson”, escrito por C. Northcote Parkinson, professor da Universidade de Singapura. O autor explicou que, no trabalho, o tempo disponível é fixo, mas o montante de trabalho é flexível. Assim, as pessoas vão sempre esticar ao máximo a quantidade de trabalho de maneira a fazer com que ela preencha todo o tempo disponível. Por isso, aumenta-se desnecessariamente a burocracia e complicam-se os procedimentos. Segundo Parkinson, isto ocorreria por dois fatores. O primeiro é a lei de multiplicação de subordinados: cada chefe quer multiplicar o número de subordinados para aumentar seu poder em relação aos seus concorrentes. O segundo é a lei de multiplicação do trabalho: o aumento do número de funcionários de um departamento gera aumento no trabalho a ser feito por todos os departamentos que se relacionam com ele. A relação entre recompensa e mérito se enfraquece. Cria-se um sistema perverso que não gera valor para a sociedade. As organizações passam a viver exclusivamente em função delas mesmas sem com isso servir eficientemente a qualquer função social ou econômica. O mérito perde o sentido. A busca e preservação de posições e poder é somente o que conta. O império da lei de Parkinson traz a mesma frustração expressada por Rui Barbosa quando disse que ”de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto“. A lei de Parkinson é o triunfo do corporativismo sobre o mérito. É a condenação da sociedade ao castigo de Sísifo

segunda-feira, abril 09, 2012

Israel

Os Judeus julgam-se acima do bem e do mal. Acham que estão sempre certos em tudo o que fazem, não aceitam críticas de ninguém e se convenceram de que têm carta branca para fazer o que quiserem em qualquer lugar do mundo. Israel é uma nação para os judeus e uma ditadura para os árabes, sejam muçulmanos ou não. Os israelenses usam sempre a justificativa de que estão ameaçados e têm de lutar pela sobrevivência frente aos inimigos. Até aí beleza, mas Israel esta cansado de saber que a ameaça que sofre deve-se hoje, sobretudo, ao fato de ocupar com violência, territórios palestinos. Desocupar as terras palestinas, mediante um acordo, é o primeiro passo para a paz, mas os israelenses não dão nenhuma demonstração de que pretendem fazer isso. Pelo contrário, estão sempre buscando um pretexto para não buscar a paz. Sabem que sempre contarão com o apoio dos EUA, submetidos ao poder econômico judeu e aos interesses geopolíticos da grande potência. Os norte-americanos, a direita mundial e os que consideram que árabes e muçulmanos são intrinsecamente povos belicosos e perigosos, justificam todos os absurdos que os israelenses cometem. Alegam que Israel sofre atentados terroristas, o que é verdade e tem de ser condenado. Mas não se importam com os atos terroristas praticados institucionalmente por Israel nos territórios ocupados, e ilegalmente em outros países. Há uma dupla moral: um lado pode, o outro não. Violência gera violência. Há extremismos dos dois lados, palestino e israelense, e no caso de Israel o extremismo começa no governo tomado por radicais insanos. E assim a paz, com a convivência de dois estados soberanos, fica a cada dia mais distante. Daí, com o apoio dos Estados Unidos, Israel “pode” o que outros países não podem. O poeta alemão Günther Grass, que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, tem toda razão ao dizer que a "potência atômica Israel põe em risco a já frágil paz mundial ao ameaçar bombardear o Irã". Já há nove países com armas nucleares e não é bom para ninguém que haja mais um. Seria melhor que todos renunciassem às bombas, o que está muito longe de acontecer. Mas o bombardeio do Irã por Israel, com apoio direto ou velado dos EUA, porque se suspeita que os iranianos estejam construindo a bomba, é a pior solução, e inaceitável. É típica de um povo prepotente e belicoso!!!

quarta-feira, abril 04, 2012

Sampa

Percorrer a Avenida Sapobemba, cortando a zona leste da cidade de São Paulo, desde os limites da Mooca até São Rafael, é assistir a uma paulatina mudança de paisagem urbana: marcas famosas vão sumindo, construções perdem o acabamento, e os anos de uso dos carros em circulação se tornam proporcionais à quantidade de buracos no caminho. Enquanto rodam dígitos no hodômetro, terrenos baldios intercalam conjuntos habitacionais e casas cada vez mais modestas. O mato invade o espaço que seria das calçadas. A coincidência assume ares premonitórios. Entre a esquina com a Salim Farah Maluf e a encruzilhada com a estrada do Rio Claro, o conteúdo das urnas eletrônicas sofre um câmbio tão radical quanto à substituição do falar italianado pelo sotaque nordestino. São dois territórios com preferências partidárias arraigadas e muito diferentes entre si. Na eleição presidencial de 2010, José Serra teve 72% dos votos na Mooca. Mas a proporção mudava a cada quilômetro adiante, até Dilma Rousseff alcançar 65% da votação em São Mateus. O voto do paulistano está relacionado ao bairro onde ele mora. O PT tem seus maiores redutos na região periférica da cidade, enquanto o PSDB é forte no centro expandido. Esse padrão se repete desde os anos 90 em todas as votações. O determinismo geográfico do voto reflete uma divisão de classe. A explosão demográfica de São Paulo centrifugou imigrantes e trabalhadores de baixa renda entre os anos 40 e 80 do século passado. Em regra, quanto mais longe a moradia, mais pobre o morador. Quanto mais periferia, menos calçamento, iluminação e hospitais. O PT reforçou o geovoto durante os governos de Luiza Erundina e Marta Suplicy. Canalizou investimentos e programas assistenciais para as regiões mais pobres e distantes das zonas sul e leste da cidade. Cativou seu eleitorado em Parelheiros e Guianases, mas alienou eleitores dos bairros mais centrais que se sentiram preteridos com a mudança de prioridade. O PSDB é menos organizado que o PT, como provou o baixo quorum das prévias tucanas na cidade. Mas se faltam militantes, seu eleitorado é tão fiel quanto o petista. Em 2008, PT e PSDB lideraram, juntos, os votos de legenda para vereador em São Paulo: 21% para cada partido. A divisão se repetiu em 2010 na eleição para deputado federal. A legenda do PT recebeu 22%, e a do PSDB ficou com 19%. A concentração do eleitorado tucano é proporcional à riqueza dos moradores. No centro expandido, varia de 82% no Jardim Paulista a 68% no Butantã. Em décadas passadas, a outra parte do eleitorado antipetista foi malufista. É o segmento que se concentra numa faixa contínua, desde o Jaçanã e a Vila Maria, ao norte, até a Vila Prudente. Decepcionado e desamparado por seu líder, esse eleitor voltou-se para quem tem mais chances de derrotar os petistas. Votou em Serra em 2004 e em Kassab em 2008. Nesses pedaços da cidade, só muda a intensidade da vitória, mas o vencedor é sempre o mesmo: petistas na periferia e tucanos no centro e no colar malufista. Por isso, tornou-se estratégico o meio do caminho entre o petismo e o antipetismo. São as zonas eleitorais que oscilam de um partido a outro de eleição para eleição. É também uma zona de transição social, de emergência da nova classe média, que muda de hábitos de consumo e pode mudar também de partido. Na ZL, os termômetros que indicarão para qual lado a eleição vai virar são Ermelino Matarazzo, São Miguel Paulista, Vila Jacuí, Ponte Rasa, Vila Matilde, Itaquera, Conjunto José Bonifácio e Sapobemba. No Sul: Jardim São Luís, Socorro e Campo Limpo. Juntos, eles somam 1 milhão de votos válidos. O futuro prefeito de São Paulo deve sair do balanço dessas zonas.

BRICS

O livro Eclipse” do polêmico Arvind Subramanian, comenta sobre o domínio econômico da China, analisa as medições do PIB de acordo com índice de paridade de poder de compra. Através deste conceito a China deve ultrapassar os EUA em 2012, apesar de que no conjunto total da economia isto ocorrerá somente em 2020. Isto faz lembrar-me do caso do Brasil em que analistas internacionais comentavam que seria a 6ª economia mundial somente em 2037. E o país é desde dezembro de 2011. Em termo de comércio, riqueza e finanças, não há dúvida da potencialidade da China, que ocupa um lugar de destaque no cenário internacional e com maior reserva cambial do mundo, financiando ações em todos os continentes. 
De acordo com o livro de Jim O’Neill, “The Growth Map”, o mapa do crescimento está nos BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O livro prevê o desenvolvimento destas cinco nações. O grupo cresceu, em 10 anos, de US$ 3 trilhões para o total de US$ 13 trilhões, muito acima de suas expectativas iniciais. 
No estudo "Paper 99" de 1996, do Goldman Sachs, os EUA seriam ultrapassados pela China em 2045, e na atual conjuntura, isto ocorrerá por em 2020. O Brasil cresce no efeito China com suas commodities, podendo ser beneficiada também a Rússia. Os BRICS são complementares em suas ações, o que é um incentivo maior para o crescimento destes países. Ainda de acordo com este estudo, o PIB será proporcional a sua população, como o caso da China e Índia. O "Paper 204" do Goldman Sachs faz comparações e projeções para 2030, que são:
- A China será a maior economia mundial com 27% do PIB Mundial em 2050, acompanhada, em 2º lugar, pela da Índia, com 12%. Os EUA serão a 3ª maior potência econômica, com 10% do PIB, o Brasil o 4º, com 5%, e a Rússia a 5ª economia, com 3%. Ou seja, quatro dos cinco primeiros serão dos BRICS. A arma secreta do desenvolvimento da China é a educação, do Brasil é o efeito China, atualmente o maior destino das exportações brasileiras. O crescimento da Rússia está vinculado às commodities, mas sua população está envelhecendo e diminuindo, o que influenciará a velocidade do desenvolvimento econômico. A Índia aumentou em 45% suas exportações em 2011, começando a despertar para o novo cenário econômico mundial.
- O Brasil pode tornar-se a 5ª potência mundial entre 2012 a 2014, por vários motivos. A França é a 5ª maior potência mundial e terminou 2011 com um PIB da ordem de US$ 2,8 trilhões contra US$ 2,4 trilhões do Brasil.
- Apesar de todas as projeções e estudos destas instituições, ressalto que existem variáveis que afetarão o desenvolvimento das nações. O mundo passará por transformações radicais, como os reflexos dos efeitos climáticos e ambientais, como a falta de água, da produção de alimentos, do manejo das reservas de florestas existentes, além do efeito tecnologia e conhecimento. Práticas de sustentabilidade e economia verde atreladas à tecnologia inovadora mudarão a realidade. Neste contexto, a tecnologia pode ajudar o Brasil, os EUA, a Alemanha e a Índia, já as commodities que são moedas de troca favorecem a Rússia e o Brasil.