terça-feira, julho 31, 2012

Evolução das ideias

Diz um provérbio berbere, que a verdade é como o camelo: tem duas orelhas. Você pode agarrá-la como lhe for mais conveniente, pela direita ou pela esquerda. Essa parece ser a postura do velho Serra, que prefere a direita. É um desconsolo descobrir o que o tempo faz aos homens. Não só, como no poema de Drummond, ao abater com sua mão pesada, cobra os anos com “rugas, dentes, calva”, mas também costuma sulcar erosões nas idéias. José Serra quer calar os blogueiros. O que está em questão é muito maior do que os franco-atiradores da internet. O problema real são os limites que querem impor à democracia. Ao que parece, há uma liberdade de imprensa para uns, e outra, para os demais. Os grandes veículos de comunicação combatem o governo, apesar de receberem dele vultosas verbas de publicidade. Alguns blogs, por convicção, defendem o governo federal, mas, conforme o PSDB,  estão impedidos de receber verbas publicitárias das empresas estatais. Nenhum jornalista brasileiro pode se dar o luxo de não contar, em sua remuneração, qualquer que ela seja, com parcelas, ainda que pequenas, de dinheiro público. O poder público é a base de toda a economia nacional. Ele contrata as empreiteiras, compra das industrias, além de subsidiá-las com incentivos fiscais,  financia as atividades agropecuárias,  paga pelos serviços,  participa do custeio das grandes organizações patronais, entre elas a Fiesp. Assim, indiretamente, participa de todos os gastos com publicidade. E mais, ainda: quem paga tudo, afinal, é a sociedade e, nela, os que realmente produzem, ou, seja, os trabalhadores. E são os trabalhadores, com parcela de seu suor, que mantêm o enganoso Fundo de Amparo ao Trabalhador que, administrado pelo Estado, por intermédio do BNDES, financiou as privatizações. Em suma, o trabalhador paga pela corda que o sufoca. Serra, e os que pensam como ele, tentam, como Josué em Jericó, segurar o sol com as mãos, ou, melhor, impedir que a Terra continue rodando em torno de seu eixo e em torno da nossa estrela. A internet é indomável. E, apesar de suas terríveis distorções, que serve à difamação, à calúnia, à contrainformação, a difusão de atos de insânia, ampliando o que a televisão vinha fazendo, não há, no horizonte das ideias plausíveis, como amordaçar os bytes, imobilizar os elétrons, apagar as telas. Tudo isso poderá ocorrer com uma tempestade solar, mas nunca pela ação dos estados. O eterno-candidato Zé Serra e seus correligionários se encontram alheios ao mundo que os cerca. Estão como um francês distraído que, em 10 de agosto de 1792, em um dos muitos cafés do Jardim das Tuileries, tomava placidamente uma baravoise, enquanto isso, a multidão invadiu o Palácio Real e o saqueou. O desconhecido continuou a beber. Todos os que o cercavam fugiram esbaforidos. Na defesa do palácio, morreram 600 guardas suíços. O francês distraído estava alheio a tudo, em sua manhã de agosto. Cinco meses depois, o Rei Luis XVI e a Rainha Maria Antonieta encontrariam a lâmina da guilhotina. Os Tucanos estão pensando em seu outubro, embora estejamos, no mundo inteiro, em tempos semelhantes aos do francês. Como sempre, o que está em jogo é a mesma reivindicação: igualdade, liberdade, fraternidade, ou seja, a democracia real

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