terça-feira, maio 29, 2012

Os 5%


Teve início um movimento organizado de ataque ao ex-presidente Lula. Primeiro, a reportagem sobre a suposta chantagem exercida por ele contra Gilmar Mendes, ministro do STF, para adiar o julgamento do mensalão, já desmentida pelo anfitrião do encontro, Nelson Jobim. Depois disso, críticas espalhadas pela rede sobre o comportamento indecoroso de Lula diante das instituições e até ironias relacionadas ao uso de remédios para o tratamento contra o câncer na laringe. Por fim, vozes mais radicais cobrando até a prisão do ex-presidente. Por que será que Lula, depois de oito anos de governo, tendo deixado o Palácio Planalto com recordes de aprovação desperta tanto ressentimento? A resposta é uma só: goste-se ou não dele, Lula ainda é a principal força política do Brasil. E é uma força viva, que pode voltar ao poder em 2018. Mas essa seria uma análise objetiva, dos que fazem cálculos frios nos jogos de poder. Ocorre que o ressentimento em relação a Lula, muitas vezes, é irracional. Como pode um retirante, metalúrgico, sem educação formal ter chegado tão longe? É isso que incomoda boa parte da classe alta brasileira. Sentimentos assim já houve no passado em relação a outros líderes políticos, como Getúlio Vargas, João Goulart ou mesmo Juscelino Kubitschek. Os paulistas odiavam Getúlio e nunca lhe deram um nome de avenida. Mas poucos fizeram tanto pela industrialização do estado, que começou a se libertar do atraso cafeeiro, como o líder trabalhista. Os militares também odiavam JK, mas, no poder, tentaram reproduzir sua visão de “Brasil Grande”. E os que vierem depois de Lula, de certa forma, serão escravos do seu modelo de inclusão social. Por mais que o critiquem, Lula não será abatido por seus detratores. Até porque, até aqui, ele foi um democrata. E resistiu à tentação do terceiro mandato, quando teria totais condições de se perpetuar no poder.

Toda Mídia


O Financial Times conversa longamente com Joaquim Levy, presidente do Bradesco Asset Management, sob o enunciado “por que o Brasil é agora um bom investimento”. Ele destaca o Bolsa Famíla como razão-chave, porque “cria classe média”, que é “de onde virá a produtividade e de onde virá a demanda de consumo”. Diz que a possível desaceleração chinesa não preocupa, pois as empresas brasileiras são focadas no mercado interno. “As exportações são apenas 10% do PIB brasileiro, com as commodities constituindo apenas metade delas. O Brasil tem um forte mercado interno, que está mais e mais resistente por causa da crescente educação.” Wall Street Journal traz reportagem sobre a prioridade anunciada pela chinesa Lenovo, segunda maior fabricante de computadores do mundo, para aquisições no Brasil. “Estamos interessados em comprar ou trabalhar com todos os atores” do setor no Brasil, diz seu presidente, sem dar maiores pistas. FT, WSJ e Telegraph noticiam que a britânica Diageo, maior empresa de bebidas alcóolicas do mundo, que produz Johnnie Walker, Guinness e Smirnoff, comprou a cearense Ypióca. Entre os motivos, a Copa e os Jogos no Brasil, a rede de distribuição no Nordeste e a busca do mercado externo, agora que os EUA aceitaram a cachaça como bebida diferenciada. As ações da Diageo já subiram. 

quinta-feira, maio 24, 2012

A nova revolução industrial


A sociedade está entrando na terceira fase da revolução industrial. Isto vai, mais uma vez, modificar a maneira pela qual a produção é concebida. No final do século XVIII, com a mudança no modo de produção capitalista, a produção doméstica nas casas de campo da Inglaterra, foi sugada para as primeiras fábricas de tecidos. Mão de obra e maquinaria se juntaram em grandes galpões, a produção aumentou e as cidades incharam rápida e dolorosamente. Esse processo deu novo salto qualitativo com o advento da sociedade de massa, já no início do Século XX. O símbolo dessa fase foi a produção do carro da Ford, modelo T, em uma linha de produção, onde o chassis entrava em uma ponta e o carro saia pronto na outra. O consumidor podia escolher a cor que quisesse, desde que fosse preta. Uma avalanche de produtos. Estas duas etapas deixaram as populações urbanizadas, mais ricas, competitivas, consumista, mas não as fez mais feliz. Agora o capitalismo do século XXI prepara no seu bojo mais um salto qualitativo em direção a uma terceira revolução industrial. Suas evidências são a convergência de tecnologia, softwares cada vez mais ágeis, novos materiais , robôs mais completos, a comunicação via internet e novos processos produtivos. A fábrica do passado era capaz de produzir um mar de produtos semelhantes, massificados, com as mesmas características e o consumidor se sentia atendido. Muita gente queria os produtos eletrônicos de baixo preço. A oficina do futuro, vai ser muito mais parecida com a velha produção doméstica inglesa, do que com as grandes fábricas de Detroit. O futuro aponta para a produção customizada, com um consumidor diferenciado, segmentado de acordo com suas posses, visão de mundo, necessidades específicas, crenças e desejos. Vai ocorrer um fracionamento na produção e por isso grandes fábricas não vão se adaptar a essa nova configuração do sistema industrial. Enfim, a fabrica como conhecemos hoje vai acabar. A produção não. Com as novas tecnologias e montagem de produtos, já é possível produzir em uma vila do interior da África ou na sua garagem. O sistema de suply chain também vai mudar. Os novos materiais serão muito mais duráveis e cada vez mais a fibra de carbono vai substituir o aço e o alumínio. Nanotecnologia, engenharia genética, e outros avanços moldam a terceira revolução industrial. Isto quer dizer que os empregos não estarão nas fábrica. Vai haver um refluxo e os produtos não vão mais ser fabricados necessariamente na China. Haverá uma tênue separação entre serviço e produção. Há uma volta à produção local, porém dentro de novos parâmetros. O processo histórico está novamente se acelerando, o que sinaliza que vivemos em uma fase de transição de uma organização econômica para outra. Os novos condicionantes estão sendo desenvolvidos, cabe a cada um de nós entendê-los para não ser atropelado no futuro.

Crescimento fraco parece estar no fim

Financial Times e Wall Street Journal noticiam o pacote de estímulo de US$ 10 bilhões destacando o financiamento de veículos, “que representa 20% da atividade industrial do país“. Bloomberg e Reuters ressaltam também a declaração da Presidenta Dilma Rousseff, de que o país está 100%, 200%, 300% preparado para a criseO WSJ acrescenta que relatório da OCED afirma que “um trecho de crescimento fraco no Brasil parece estar chegando ao fim, mas ainda há riscos na forma de inflação, crédito e competitividade“. No Council of the Americas, “Rousseff enfrenta o infame custo Brasil“, dizendo que, “conforme o país encara os efeitos da crise na zona do euro, a presidente espera tomar conta de um de seus mais atemorizantes obstáculos econômicos, a combinação de barreiras burocrátias, impostos complexos e infraestrutura insuficiente”. Na manchete do China Daily, o chefe da Câmara Internacional de Comércio diz que o país deve ampliar a demanda interna, reduzir sua dependência dos EUA e da Europa e “focar mais na Ásia e nos mercados emergentes”. Também no CD, a Changan, maior montadora chinesa, quer levar suas marcas para outros países. “Estamos estudando a construção de fábricas de automóveis em mercados estrangeiros como Rússia e Brasil“. Ainda no jornal estatal, o Ministério do Comércio Chinês afirmou que o país foi alvo de 17 investigações anti-dumping e anti-subsídios, contra nove no mesmo período do ano anterior. A maioria é de EUA e União Europeia, mas “investigações lançadas por países em desenvolvimento estão crescendo”.

segunda-feira, maio 21, 2012

Mudança Sísmica


No Financial Times, “Classificação de risco de ricos e pobres se estreita”, segundo o jornal, realizando “o reconhecimento formal de uma mudança sísmica nos mercados financeiros“. Após anos sendo classificados como lixo, fora do grau de investimento, enquando os desenvolvidos recebiam notas altas, os emergentes se aproximam agora que a crise financeira “fez em pedaços as noções do que constitui bens seguros e de risco”: A Moody’s está com perspectiva negativa ou revisando 29 países para rebaixamento, metade deles países desenvolvidos, inclusiva EUA, Reino Unido, Espanha, França e Itália. Por outro lado, 12 países, a maioria dos quais são mercados emergentes, como Brasil, China, Peru e Turquia, podem estar na fila para elevaçõesO China Daily noticiou a cúpula do G8 nos EUA, dos países desenvolvidos, destacando que o presidente russo Vladimir Putin não foi e que emergentes “como China, Índia, Brasil e outros estão representando papel cada vez mais importante na arena internacional”. Assim, “por exemplo, o maior fórum para lidar com desafios econômicos globais mudou do G8 para o G20 anos atrás”. Bruce Jones, do Brookings, diz que o G8 é hoje um mecanismo estranho, datado e que “será difícil para o G8 calcular qual é sua relevância nos próximos anos“. O CD já havia anotado, em artigo de Wang Yusheng, do Centro de Pesquisa Estratégica da China, que a ausência da Rússia no G8 estaria ligada à oposição ao escudo antimísseis da Otan, na Europa. E um ex-secretário de Estado já propõe convidar a Rússia para a organização militar liderada pelos EUA, para reiniciar as relações.

sexta-feira, maio 18, 2012

O caos e a lama

Guardadas as devidas proporções, a cena remetia a atentados terroristas em estações de metrô como o de julho de 2005 em Londres, ou o de março de 2004 em Madri ou o de 2003 em Moscou. Pessoas em pânico, portas que demoraram para abrir, energia cortada aumentando o sentimento de insegurança, janelas de emergência quebradas, gritos e correria. Mas a cena provocada pelo trem da linha 3-Vermelha do metrô de São Paulo não foi resultado de um atentado, e sim de falha num equipamento de segurança, e isso num ramal que transporta mais de 1 milhão de passageiros por dia. As imagens correram mundo, sempre acompanhadas da informação de que o acidente ocorrera na linha que levará torcedores ao Itaquerão para o jogo de abertura da Copa de 2014. Não fosse a perícia do condutor do trem, que acionou o freio de emergência, o número de feridos seria muito maior do que as mais de 130 pessoas que foram atendidas nos hospitais públicos. O acidente vem se somar ao grande número de ocorrências graves registradas nas linhas do transporte ferroviário na cidade. Desde 2007, ano em que sete pessoas morreram nas obras da linha 4-Amarela, foram quase 100 panes nas linhas do metrô e 124 nas linhas ferroviárias da CTPMAlgo está errado e muito precisa ser feito. Mas, em entrevista logo após o acidente, o secretário de Transportes, Jurandir Fernandes, aconselhava aos usuários do metrô a não andarem "distraídos"!!! E o governador Alkimin, em peregrinação política pela Zona Norte, anunciava investimentos futuros numa nova linha para atender a região... A verdade pura e simples é que a situação do transporte público em São Paulo é de caos. E as autoridades responsáveis pouco têm feito. Em 2011, dos R$ 5 bilhões previstos para a expansão do metrô, o governo do estado executou somente R$ 1 bilhão. Já na CPTM os investimentos na compra de trens foram reduzidos praticamente à metade. Os investimentos na linha vermelha encolheram 20% e, em todo o sistema a redução foi 19%. Além da falta de investimentos necessários na ampliação e manutenção da rede, sobram denúncias de corrupção nunca apuradas, como compras superfaturadas de trens, cancelamento de licitações, nomeação de um presidente com condenação na justiça e por aí vai. E apesar da inércia, o governo do estado continua prometendo 200 km de linhas do metrô até 2018, apesar de nos últimos 17 anos, os governos tucanos terem construído meros 25 km. Recentemente, a The Economist, tratando do assunto, disse que o metrô de São Paulo ainda não é digno da maior cidade da América do Sul. E não é mesmo. Com 71 km de extensão é menor que o metrô da cidade do México (200 km) e que o de Seul (400 km). Santiago do Chile, cidade com um quarto do tamanho de São Paulo, tem, como lembrou a revista, uma rede metroviária 40% maior. O padrão europeu privilegia, por meio de subsídios, o transporte coletivo, numa escolha que contempla preocupação com a sustentabilidade ambiental. No Brasil, lamentavelmente, tem perdurado a prioridade ao transporte individual rodoviário. A situação da mobilidade urbana, sobretudo na região metropolitana de São Paulo, evidencia o equívoco da prevalência dessa opção. Estudos da Associação Nacional de Transportes Públicos indicam que é preciso tirar de circulação 30% dos automóveis das ruas da capital paulista. Não se trata, evidentemente, de impedir que as pessoas adquiram e usem seu carro. Trata-se de ofertar transporte público em quantidade e qualidade, de forma a inibir o uso indiscriminado e excessivo do automóvel. Os números mostram que, infelizmente, estamos longe disso. Desde 1997 o Datafolha pesquisa a avaliação do sistema de transporte público de São Paulo. No último levantamento, pela primeira vez, menos da metade da população aprovou a qualidade do metrô, que tem batido recorde histórico de superlotação. O sistema de transporte por trilhos de São Paulo passou a atender 7 milhões de passageiros por dia. Para se ter uma idéia da dimensão do problema, só o volume que aderiu ao sistema em um ano – 1 milhão de pessoas – é igual ao total transportado no sistema do Rio de Janeiro. O problema é enorme e se avoluma. E sua solução não se restringe a enfrentar os problemas do metrô, que é o melhor sistema de transporte de massa. Entretanto, nas condições ainda vigentes no Brasil, a responsabilidade primeira do prefeito é com a melhoria e desenvolvimento do transporte coletivo por ônibus e, se puder, contribuir para o incremento do metrô. São Paulo tem investido pouco no metrô e praticamente zero nos corredores de ômibus.

sexta-feira, maio 11, 2012

Toda Mídia


O Wall Street Journal noticia, com tradução destacada pelo Valor, que “Carlos Slim, do México, faz um avanço de surpresa na Europa“, fazendo uma oferta pela “cambaleante” holandesa Royal KPN. O jornal diz que o negócio levantou “especulação de que o homem mais rico do mundo pode embarcar numa conquista inversa da Europa”. O WSJ ouve do banco UBS que “Slim é muito bom na compra de bons ativos em mercados deprimidos” e anota que foi assim, ao entrar no mercado brasileiro, via Net e Claro. A perspectiva de redução nos dividendos, devido às aquisições, levou o BTG Pactual a cortar a nota de investimento na corporação de Slim. O Financial Times também noticia, sob o título “Slim está à caça de pechinchas na Europa”. E o New York Times destaca que “Slim busca expandir seu império à enfraquecida Europa”, ele que “construiu fortuna com a ajuda do crescimento de países como o Brasil“. O WSJ noticia que a americana DirecTV, dona da operadora Sky, “diante do mercado de TV paga amadurecido nos EUA, aposta em mercados de crescimento da América Latina, como o Brasil, onde a penetração de TV paga é baixa em relação aos EUA”. O MarketWatch informa, com novo estudo destacando que os ”Serviços de TV paga no Brasil cresceram mais de 30% em 2011″. Ressalta também que os serviços de banda larga cresceram 20%. Do diretor de pesquisa da Parks: "Existem oportunidades digitais domésticas em vários mercados emergentes, mas o crescimento no Brasil é fenomenal.O TNW, por outro lado, noticia que o Netflix assinou com a Fox para licenciar filmes na América Latina, onde “a maior parte do retorno negativo dos usuários, desde o lançamento no ano passado, focou na falta de conteúdo interessante ou novo”.

quinta-feira, maio 10, 2012

A Cachoeira de Abril


A CPI da Veja. O assunto é sério. Gravíssimo. E é hora de todo cidadão honesto ficar alerta. Os barões da mídia se uniram para que uma CPI não passe a limpo as relações criminosas do bicheiro Cachoeira e parte da chamada grande imprensa brasileira, principalmente a revista Veja. O País não pode perder essa oportunidade de desmascarar aqueles que toda semana tentam mostrar nas bancas que são os reis da honestidade. Falam de ética, mas agem como traficantes da informação. Investigações da Polícia Federal já revelaram que a Veja, da família Civita, agiu como porta-voz do bicheiro, preso desde o final de fevereiro, e manteve com ele uma clara troca de favores. A relação fere, no mínimo, qualquer princípio do bom jornalismo. Evidências mostram que a Veja se submeteu aos interesses do crime organizado, jogou a favor de um determinado grupo político por interesses desconhecidos e usou informações obtidas de forma ilegal para atacar seus inimigos. O diretor de jornalismo da Veja virou confidente, amigo íntimo, do bicheiro Cachoeira e de sua turma envolvidos com ações criminosas, como provam as centenas de ligações grampeadas com autorização judicial. Eles escolhiam até em qual parte da revista a informação "denunciada" seria publicada. Quando as denúncias contra o senador Demóstenes Torres e seus negócios com o bicheiro Cachoeira ameaçavam trazer à tona toda sujeira, a revista dos Civita preferiu dedicar uma capa ao Santo Sudário. Bem diferente da cobertura dedicada ao Mensalão, que mereceu 27 capas desde maio de 2005. Repito: 27. Globo e Folha fazem barricada para proteger Veja. É de dar calafrios quando essa turma se une. Onde estão as reportagens no Jornal Nacional citando a revista e a editora abertamente? Onde se escondeu o jornalismo "plural e independente" da Folha? Querem proteger os que praticam um crime. A Veja tenta intimidar os parlamentares que investigam as ligações de Cachoeira com a revista. “Vou explodir”, ameaça Cachoeira da prisão, de acordo com a Veja. Em entrevista a revista, Andressa Mendonça, mulher do contraventor, diz que o marido pode revelar tudo o que sabe. E agora, Veja? O mais importante agora é ver a coragem dos parlamentares para levar de fato Roberto Civita, o dono, a sentar-se em uma das cadeiras da CPI e encarar as perguntas daqueles que estão lá como representantes do povo. O mesmo povo que a Veja tenta enganar todos os fins de semana.

sexta-feira, maio 04, 2012

Delírio ou Mentira???


O governador Geraldo Alckmin acordou animado e prometeu triplicar a rede de metrô paulistano até 2018. Acredite se quiser. Isso significa construir 120 km em 6 anos. Ou 20 km por ano. Tudo bem, não fosse o fato de o PSDB ter demorado os últimos 16 anos para entregar míseros 25 km. A tucanada é lerda mesmo. E porque conseguiriam fazer agora o que não foram capazes nas duas décadas em que estão atolados no poder? Tem que ser muito ingênuo para acreditar numa bravata dessas. Não é a primeira vez que Alckmin e sua turma alardeiam promessas dessa magnitude. Despoluir o Tietê e transformar suas marginas no maior canteiro do mundo foram algumas de suas fanfarronices. Se nem do básico, tipo educação e segurança, eles dão conta, imagina algo tão trabalhoso como ampliar o metrô para o tamanho que ele deveria ter desde os anos 70? Pura bazófia. O delírio verbal do nobre governador fica mais evidente quando nos lembramos do estado de calamidade em que se encontram os trens da CPTM, que sofrem panes homéricas e semanais. Vida de gado. É desanimador ter que ouvir esse tipo de balela. Ofende a inteligência até do otimista mais incorrigível. E nem adianta pedir pra esse pessoal registrar promessas em cartório. O Serra está aí para provar que papel só serve para bolinha. Não podemos dizer que todo político mente. Até porque a lei permite a qualquer pessoa, em último caso, permanecer em silêncio. Mas o eleitor sabe que faz parte da retórica política o apelo à demagogia e as juras que jamais se cumprirão. Acredita quem quiser.

Prosperidade


Em 2008 uma série de eventos econômicos – a eclosão da crise financeira nos EUA e a crise dos PIIGS – colocaram a questão de como restaurar a prosperidade. Até pouco tempo atrás os lideres das economias europeias achavam que tinham a resposta para esta pergunta. A solução seria a austeridade. A austeridade, imposta pelo FMI, restauraria a confiança dos mercados e como resultado haveria crescimento econômico. Quatro anos depois ficou provado que longe de restaurar a prosperidade, a austeridade impediu o crescimento econômico e agravou a situação fiscal dos países que implementaram a receita. O índice de desemprego dos vários países afetados é uma das muitas provas de que a austeridade não trouxe bons resultados. Na Irlanda, o desemprego é agora quase 15%. Na Grécia, o desemprego cresceu para 22%, na Itália, chegou em 9% e na Espanha chega agora a ¼ da população. Esta lista poderia crescer. Interessante notar que em pelo menos dois países que não seguiram o receituário de austeridade, Estados Unidos e Brasil, o desemprego caiu. Nos EUA, apesar de todas as dificuldades politicas, o exemplo de austeridade não foi seguido. As medidas aprovadas no inicio do Governo Obama aliviaram a recessão, poder-se ia dizer que evitaram a depressão, e o estimulo ainda que pequeno fez com que o desemprego caísse de 10% para 8% e no Brasil, o desemprego caiu para 6%. Nas ultimas semanas subitamente a conversa mudou. Começou-se a falar em mudança de estratégia e em particular da necessidade de reverter o ciclo vicioso de desemprego e recessão. Para completar, o Primeiro Ministro holandês renunciou depois que suas medidas de austeridade não foram aprovadas e é possível que o socialista François Hollande vença as eleições na França. Esta mudança de tom coincidiu com a piora das condições na Espanha que passou para o centro dos acontecimentos. A Grécia já ficou para a história e a economia espanhola é quatro vezes maior que a grega. Começa-se a se notar uma divergência entre a visão do FMI e das autoridades europeias. O FMI está começando a se distanciar da visão de que austeridade é a solução. Apesar das declarações de preocupação de Mario Draghi, o BCE está, como esteve outras vezes, paralisado. Agora seria a hora de fazer um afrouxamento monetário, diminuir a taxa de juros, injetar dinheiro nos bancos espanhóis. Repete-se o que já vimos, muita conversa e pouca decisão enquanto a situação se deteriora. Na semana passada nos Estados Unidos, começou uma briga que vem sendo chamada "a briga dos barbudos" entre Bernanke e Krugman, porque Bernanke insiste que não há necessidade de ajudar a economia e Krugman insiste que o medo de inflação não deveria impedir mais flexibilidade monetária para ter mais crescimento econômico. Nos Estados Unidos as eleições estão indefinidas, Obama e Romney aparecem empatados nas pesquisas. Por enquanto as mensagens de ambos os candidatos são genéricas. Muita água vai rolar, mas seja qual for o novo Presidente, o voto do Congresso para aumentar o teto do endividamento vai provocar cortes automáticos de despesas a partir de 2013. Desde Fevereiro, houve um retorno da volatilidade nos mercados acionários. Os pedidos de seguro desemprego aumentaram. Estamos na temporada de resultados das empresas. As incertezas politicas na Europa e nos Estados Unidos estão trazendo de volta os temores de 2008. Pior ainda, ninguém tem uma resposta boa para como restaurar a prosperidade.

quinta-feira, maio 03, 2012

Os Trouxas da Veja


Desesperados, em pânico, os responsáveis pela relação promíscua e suspeitosa que se abateu sobre a Veja tentam criar uma cortina de fumaça para encobrir o que todos os cidadãos esclarecidos já sabem: a Veja agiu como porta-voz da oposição, e para isso se serviu do que há de pior no mundo da corrupção e da arapongagem. No caudaloso editorial travestido de reportagem, o semanário inverte todos os sinais para bancar a tese de que investigar as maracutaias do DEM e o envolvimento da Veja com esse pessoal barra pesada é um truque do PT para abafar o julgamento do chamado Mensalão, em curso no STF. Perdeu a compostura. Primeiro, porque em nenhum momento a “reportagem” deixa claro para o leitor que a Veja está sendo associada a esse esquema, tanto que será convocada, na figura do seu maior expoente, Roberto Civita, a prestar esclarecimentos diante da CPI do Cachoeira. Covardemente, a Veja dá a entender que diversos jornalistas estão sendo chamados a depor. Seria mais uma ofensiva “stalinista” do Governo Dilma contra a liberdade de expressão. Balela. Quem está sob grave suspeição é apenas o panfleto semanal da elite branca deste País. Eles que se virem, não venham com essa conversa furada. Todos queremos que o Mensalão seja julgado de forma rápida e rigorosa. Ladrão é ladrão, independentemente da filiação partidária. Mas uma nova casa caiu. Agora faz sentido todo o espaço que a revista deu para as bravatas do Demóstenes, todas as “informações privilegiadas” a que tiveram acesso. Na verdade, veicularam as teses que interessavam aos bandidos. Porrada em todos. Ponto final. Nem Mensalão, nem DEM, nem Cachoeira. Chega de artimanhas e hipocrisia. Quem viver, verá que de bandidos o Brasil está bem servido. Se há mocinhos nessa história, não sou eu quem vai apontar. Basta não sermos tratados como trouxas. Já é um grande avanço.

O Silêncio dos Inocentes

O movimento “Não Foi Acidente”, que prega a coleta de assinaturas para pressionar o Congresso a endurecer as leis de trânsito é a típica iniciativa populista, demagógica e burra. Só vai servir para gastar papel e adiar o surgimento das verdadeiras soluções. O bom mocismo costuma causar tanto estrago quanto a vilania. Um dos motivos é que fazer o bem é muito mais complexo do que praticar uma maldade. Tente ajudar um vizinho alcoólatra e você vai entender rapidinho. De uns anos pra cá, os que mandam no Brasil desenvolveram um hábito extremamente nocivo de ocupar a sociedade com novas leis que se resumem a reforçar as que já existem. É pura dissimulação de um Estado incapaz de cumprir com suas mínimas obrigações. Se há algo que não falta em nossa terra país são leis. Temos toneladas delas, muitas inúteis e ridículas. Mas as que de fato interessam não são cumpridas, por falha de fiscalização ou desinteresse puro e simples dos poderosos. Se somos o quinto país com maior número de mortes decorrentes de acidentes envolvendo meios de transporte, não é por falta de uma legislação dura. Para começo de conversa, faltam estradas transitáveis, minimamente sinalizadas. Falta equipar nossas polícias rodoviárias. Falta investir em educação a fortuna incalculável proveniente de multas e IPVAs. Falta obrigar as montadoras a fabricarem carros modernos e seguros, compatíveis com os preços extorsivos que tornam nossos veículos os mais caros do sistema solar. Em vez disso, os inocentes úteis ficam atolando redes sociais com essa conversinha de tolerância zero para bebidas. É muito cretino imaginar que um cidadão que tome uma taça de vinho no almoço em família se torne um assassino em potencial que merece ser preso numa masmorra para o resto da vida. Embriaguez ao volante é proibida desde sempre. Essa nunca foi a questão, se pode um miligrama de chope ou quinze doses de cachaça vagabunda. Vamos deixar de ser ingênuos. Esse amontoado de leis criadas de forma apressada, sem contrapartida das autoridades competentes, apenas atola delegados e juízes embaixo de uma montanha de burocracia. No final, sobrevivem apenas os que podem pagar bons advogados. E de uma vez por todas: a maioria das vítimas estão na periferia, nas estradas esburacadas e sem acostamento criminosamente abandonadas pelo poder público. Quem dera nosso problema fossem as Ferraris envenenadas e motoristas que se embriagam em boates de luxo. Nunca faltou lei para punir essa gente. O que sempre faltou foi Justiça, algo que não se encontra nas ruas. Eu, pelo menos, nunca vi.

Provocador



Guardar ressentimento é tomar veneno e esperar que outra pessoa morra. A frase, de Shakespeare, parece ter se tornado o lema da elite brasileira contra a chamada classe ascendente. Puro rancor. Já se tornou um clássico dizer que os aeroportos se tornaram rodoviárias depois que o povão passou a ter acesso, para logo em seguida ser responsabilizado pelo caos aéreo que há décadas vinha sendo engendrado na incompetência de um Estado feito apenas para os 10% mais ricos. A burguesia tupiniquim não gostou de ter te dividir o espaço de suas bagagens com os antigos empregados. Mas como não tem muitos argumentos, fica na dependência de que algum reacionário de plantão venha esculachar o “churrasco na laje”. É assim que falam os colunistas da Folha e profetas do apocalipse. Sem nenhuma originalidade, repetem essa ladainha carcomida pela inveja. Puro despeito, travestido de sociologia de botequim. Os colonizadores escravocratas, ainda têm a petulância de dar conselhos civilizatórios para o povaréu. Alertam sobre o risco do excesso de bagagem. Os esnobes sempre foram fazer compras em Miami. Era chique. Agora que chegou a vez do pessoal da “laje”, não pode mais, é feio. As malas dos pobres redimidos incomodam muito o refinado reacionário. Quer saber? Como diria um aristocrata de verdade: por que no te callas?

quarta-feira, maio 02, 2012

Não se endividar é melhor, mas juros baixos é bom


Dilma Reousseff decidiu partir para o ataque contra os altos juros cobrados pelos bancos. Isto vai na mesma linha do combate à inflação desfechado pelo Plano Real que, nos anos 1990, elegeu Fernando Henrique Cardoso para a Presidência. A diferença é que Dilma já está na presidência há 16 meses e seu governo bate seguidos recordes de popularidade. Se a inflação era o maior problema da economia brasileira no período pós-ditadura, os juros altos são o maior entrave hoje para o crescimento sustentável do país. Nada mais justo, portanto, que Dilma aproveite a sua lua de mel com a população para fazer o que nenhum antecessor dela teve coragem: confrontar o setor financeiro cujos lucros crescem em progressão geométrica a cada ano. Zé Alencar, o vice de Lula, já falecido, com certeza ficaria orgulhoso de ver a presidenta falando na televisão. Afinal, ele passou oito anos no governo reclamando dos juros altos. Dilma agora atendeu aos seus apelos. O governo estava de olho nos bancos desde agosto do ano passado, quando o Banco Central começou a reduzir a taxa básica de juros (Selic), que hoje está em 9% ao ano, a mais baixa dos últimos tempos. Os grandes bancos brasileiros nem se coçaram com a iniciativa de Dilma e continuam cobrando 185% de juros no cheque especial. De fato, é um acinte para a população brasileira que o chamado "spread", a diferença entre o que o banco nos paga de rendimentos e o que cobra quando vamos fazer um empréstimo. Para quem a conhece, até que demorou muito para Dilma perder a paciência. Sem subir o tom de voz, com o semblante sereno, mas com firmeza, ela foi direto ao ponto: "É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com os juros mais altos do mundo". Até abril, o governo tentou negociar a redução dos juros com a Febraban, mas o setor não queria ceder nada e ainda tentou tirar alguma vantagem. Foi a gota d´água. O presidente do BaCen, Alexandre Tombini, dispensou a interlocução e determinou aos principais bancos públicos do pais, o Banco do Brasil e a Caixa Economia Federal, que tomassem a iniciativa de reduzir os juros. Os grandes bancos privados, para não perder a freguesia, teriam que vir atrás, o que de fato já está acontecendo. Apesar de tratar de um problema econômico, o discurso de Dilma foi essencialmente político, ao pedir diretamente à população que procure as taxas de juros mais baixas. "A Caixa e o Banco do Brasil escolheram o caminho do bom exemplo e da saudável concorrência de mercado, provando que é possível baixar os juros". É tudo o que gostariam de ouvir os brasileiros que foram às compras nos últimos anos e agora fazem contas para ver como vão pagar suas dívidas. Com juros menores, eles ganharão confiança até para comprar o que falta e a economia continuará girando. É este o Plano Dilma, um belo presente para os trabalhadores...