sexta-feira, outubro 28, 2011

Partidos influenciam adesão à democracia

Ao contrário do que afirmam boa parte dos autores da literatura especializada, e muitos dos nossos analistas políticos - eu diria que, neste último caso, quase a maioria -, de que os partidos são desimportantes na vida institucional do país, eles são importantes e influenciam, sim, atitudes e comportamentos políticos nacionais. E influenciam, ainda com maior intensidade, a decisão de voto dos eleitores. A conclusão é de estudo do cientista político Yan Carreirão, professor da UFSC, com a qual concordo integralmente. Carreirão expôs seu trabalho no 35º encontro anual da ANPOCS. Suas teses mereceram uma bela reportagem do jornalista Uirá Machado, na Folha UOL. Nesse trabalho, que vai na contramão da "intelligentsia" acadêmica nacional, o professor constata que a identificação do eleitor com o PT e o PSDB teve influência significativa no voto do eleitorado nacional nas eleições do ano passado. Mostra, por exemplo, que naquele pleito um eleitor não tucano tinha 90% mais de chance de votar na presidenta Dilma Rousseff, do que no candidato do PSDB e da oposição, José Serra. O trabalho acadêmico mostra, ainda, que atitudes políticas, como adesão à democracia ou aceitação da repressão, também são influenciadas pelos partidos, ainda que em menor intensidade do que no caso do voto. Nesse ponto Carreirão concluiu que os eleitores que manifestaram preferência pelo PT no ano passado mostraram maior tendência a apoiar a democracia do que aqueles identificados com o PSDB. Ao mesmo tempo, os tucanos tiveram maior tendência a aceitar medidas repressivas do que os petistas. Carreirão fez o seu trabalho com base no Estudo Eleitoral Brasileiro que, em 2010, mostrava que 32% dos brasileiros, em termos de identificação partidária preferiam o PT, contra 9% que preferiam o PSDB.

Desembolsos diminuem


O gráfico mostra a taxa de crescimento do volume de empréstimos desembolsados pelo BNDES ano a ano desde 2006. A taxa de crescimento dos desembolsos do BNDES, que em 2006 foi de 10% aa, foi acelerando até 2009 quando cresceu 50%Em 2010 houve uma desaceleração no volume de desembolsos, que ainda cresceram 23%Porém em 2011 até julho, temos uma queda de 5% no volume de empréstimos desembolsados. Acredito que o governo percebeu que o crescimento da carteira do banco era insustentável e portanto decidiu reduzir o volume de desembolsos. Além disto é possível que os empresários tenham percebido o desaquecimento da economia e decidiram assim adiar alguns de seus investimentos. Seja qual for o motivo, tal queda no impulso creditício do BNDES foi bastante expressiva, como vemos no gráfico abaixo que mostra a variação anual acumulada dos desembolsos,  como % do PIB:
Vemos que o crescimento dos desembolsos veio crescendo até 2009, saindo de zero até 1,3% do PIB!!! Se todo este dinheiro foi gasto nos 12 meses subsequentes em investimentos produtivos, podemos dizer que o crescimento dos desembolsos de 2009 pode ter gerado uma contribuição de mais de 1% no crescimento do PIB em 2010! Se tal raciocínio estiver correto, explica-se aí um pouco da queda da produção industrial em 2011, decorrente da redução do impulso do BNDES de 1,3% para 0,3% em 2010. Se extrapolarmos esta hipótese, podemos prever quedas mais fortes na atividade nos próximos meses, uma vez que o impulso caiu de + 0,3% em 2010 para -0,5% do PIB nesse ano!!! Como não podemos depender do BNDES para financiar nossos investimentos de forma crescente, é preciso que o setor financeiro privado assuma este papel, preferencialmente através do uso dos mercados de capitais. Entende-se aí o forte desejo da Presidenta em derrubar as taxas reais de juros, o que , se ela tiver sucesso,  pode motivar uma mudança na alocação da poupança privada, que hoje está fortemente investida no curto prazo, para investimentos de longo prazo. Contudo, trata-se de uma experiência de risco, pois na medida em que não geramos  poupança interna suficiente para financiar nossos investimentos, tal redução dos juros  acompanhada de uma desvalorização do Real pode tirar a inflação da meta, o que aumentaria o risco macro-econômico,  reduzindo assim os investimentos privados. Para que isto não ocorra é preciso aumentar a formação de poupança no país. Um ajuste fiscal forte poderia ajudar neste sentido. Vamos torcer para que esta tentativa funcione.

Toda Mídia


A Time sai com a manchete "Hillary Clinton e a ascensão do poder inteligente", expressão usada para descrever a política externa americana hoje, quando os EUA não detêm o poder sozinhos. Já a Economist sai com capa sobre o plano europeu de resgate, dizendo que "não põe fim à crise do euro". E questiona a busca de apoio dos Brics: "Por que a China ou o Brasil deveriam investir um bocado quando a Alemanha está resistindo em pôr mais dinheiro?". Sobre o Brasil, volta a cobrar prioridade à inflação, não ao crescimento. A revista britânica também divulga a nova pesquisa Latinobarómetro, que registrou queda no apoio à democracia por toda a América Latina, o que credita, de modo geral, ao "descontentamento do progresso". Ou seja, os latino-americanos, agora "menos pobres, querem serviços públicos melhores".

As Assombrações


No Valor Econômico, Larry Summers, ex-secretário do Tesouro americano, diz que “o Brasil é um país com potencial de crescimento assombroso, que não lembra de modo nenhum o país que há pouco mais de uma década enfrentava sérias dificuldades financeiras”.
“Summers lembrou que, em 1999, quando negociava com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seus “bons amigos” Pedro Malan e Armínio Fraga para ajudar o Brasil a sair de uma crise, seria inimaginável pensar que, 12 anos depois, o Brasil conseguiria acessar o mercado internacional em condições melhores não apenas que Grécia, Portugal, Espanha e Bélgica, mas também França”.
Não era inimaginável, apenas não se queria imaginar isso. O Brasil, na cabeça de  seus “bons amigos” era aquela coisinha miúda, que botava uma roupinha imitando as da corte e entrava ali, limpando os pé e se portando direitinho, para os moço tratá nóis bem. Mas na reportagem,  Mr. Summers  diz  que o Brasil não tem sido “imune” ao nacionalismo econômico, criticando medidas que privilegiam empresas e produtores nacionais em detrimento dos estrangeiros. Segundo ele, é algo “tentador” no curto prazo, mas que no longo prazo não tem efeito positivo. Mr. Summers, o senhor, que gostava tanto de citar a frase de Lord Keynes – quando mudam as circunstâncias, eu mudo de opinião – , não está vendo que as economias que não se protegem ficam estagnadas e vão para o brejo a cada solavanco que vocês arranjam lá, nas obsoletas locomotivas da economia mundial? Não vê que seu país está em crise, torcendo para que a economia chinesa venha salvar o emprego nos EUA? O Brasil sempre foi o que era porque seus governantes sempre foram "bons amigos".

segunda-feira, outubro 24, 2011

Contra-ataque


O londrino Telegraph, noticiou primeiro, "Aflições de dinheiro do WikiLeaks trazem fim do vazamento de segredos". E no Guardian, "WikiLeaks suspende publicação para lutar contra bloqueio financeiro". Em suma, sob pressão da Casa Branca de Barack Obama e do Bank of America, Visa, Mastercard, PayPal e Western Union vão conseguindo calar uma fonte de revelações sobre as ações americanas no mundo. Por outro lado, o australiano The Age destaca que o WikiLeaks informou que vai reativar o sistema de recebimento de vazamentos no dia 28 de novembro, aniversário da divulgação dos despachos diplomáticos dos EUA. O sistema estava fora do ar havia quase um ano, depois que um ex-integrante, hoje alinhado aos críticos do WikiLeaks, removeu software e inviabilizou as operações, além de furtar os dados sobre operações do Bank of America, que seriam o vazamento seguinte. Aqui, "WikiLeaks precisa de você".

sexta-feira, outubro 21, 2011

Soft Power


O colunista do New York Times Anand Diridharadas, defende mudar a "definição de modernidade". Questiona o "tipo humano moderno", mais "livre" mas também mais "friamente sozinho", que se estabeleceu no Ocidente e que "agora alguns bilhões de recém-chegados estão se esforçando em copiar". Diz que "recomendar 'desenvolvimento' à China ou ao Brasil é recomendar um complexo com vantagens e, sabemos hoje, armadilhas profundas", como "o vício por coisas materiais", poluição, "desgaste da família", "crianças que abandonam seus pais".

Educação


Uma das prioridades definidas pela Presidenta Dilma Rousseff é a Educação, que vive um momento de transição, avançando decisivamente para superar as seguidas décadas de atraso, fruto do descaso das elites dominantes deste país. A meta é conseguir dar um salto de qualidade no setor, aliando os progressos educacionais aos tecnológicos e de inovação, pilares de um país desenvolvido e capacitado. No entanto, esse caminho é repleto de obstáculos, de diferentes ordens. Convivemos com uma realidade educacional em que ainda há muito a ser feito tanto no que se refere à qualificação e valorização do corpo docente e dos conteúdos educativos, quanto no campo da universalização do ensino público. Em suma, o quadro é uma somatória de problemas históricos com dificuldades atuais e desafios futurosNo que concerne ao ensino superior, crucial para atender à demanda crescente no país por mão-de-obra qualificada, o Governo Federal coleciona avanços. Evidente que estou falando do Enem, ProUni, Pronatec e da construção e melhoria de 14 novas universidades. O Valor Econômico revelou recentemente que a construção dos novos campi de universidades federais permitiu a inclusão de cerca de 40 municípios do interior no mapa do ensino superior gratuito. As matrículas saltaram de 25 mil, em 2006, para mais de 80 mil neste ano. A oferta de cursos nas novas federais foi pensada conforme a localização e as características para o desenvolvimento regional, uma diretriz importante. O orçamento para a expansão das federais dobrou sob o Governo Lula, passando de R$ 12 bilhões para R$ 24 bilhões em 2010Mas alguns aspectos que ajudam a dimensionar o quanto conseguimos avançar não ganham a merecida repercussão. Um deles é a confirmação pelo STF da constitucionalidade do piso nacional dos professores, questionada por Estados governados pela oposição. Com a decisão do Supremo, o piso salarial passa a ser uma realidade em todos os níveis da esfera pública. Para 2012, a previsão inicial do Ministério do Planejamento é de que o piso passe de R$ 1.100 para cerca de R$ 1.400. Trata-se de uma grande vitória de todos os professores e da sociedade, que se soma à nossa liderança na América Latina na produção científica e à melhoria no ranking de inovação — estamos em 47º lugar hoje. Além disso, estima-se que o investimento mínimo por aluno do ensino fundamental para 2012 fique acima dos R$ 2.000. Se quisermos realmente colocar o Brasil na rota do desenvolvimento, precisamos investir pesado em Educação, solucionando velhos problemas ao mesmo tempo em que qualificamos a atual oferta de serviços públicos. Isso significa completar o caminho de maior dotação orçamentária, sem dúvida, mas também percorrer a estrada da introdução da tecnologia e da inovação no cotidiano de professores e alunos.

quinta-feira, outubro 20, 2011

Mirem no ICMS


Houve uma grande discussão na Constituinte para decidir se a receita do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços deveria ser apropriada pelo Estado de origem ou de destino do produto. Os constituintes, liderados por José Serra, preferiram o local de origem da produção. Essa decisão mostrou-se um erro grave, pois ela piorou as desigualdades regionais do país, uma vez que os Estados mais industrializados passaram a ter a maior fatia do bolo do ICMS. Um consumidor do Piauí que comprar um carro zero quilômetro talvez não saiba que uma parte do ICMS que pagará, no ato de aquisição, irá para o Estado de origem do veículo. A receita do tributo deveria ser apropriada pelo governo do Estado onde mora a pessoa que comprou a mercadoria, pois é ele que irá prestar os serviços públicos que o consumidor demandará. A decisão dos constituintes desencadeou uma “guerra fiscal” entre os Estados, pois todos os governadores perceberam a lógica do sistema adotado. Eles passaram a conceder incentivos fiscais de todos os tipos para atrair indústrias e, dessa forma, ampliar sua participação no ICMS. Ao decidir que o ICMS seria apropriado na origem da mercadoria, os constituintes tiveram que enfrentar um problema sério, pois o ICMS incidente sobre petróleo e seus derivados e sobre energia elétrica seria apropriado por poucos Estados onde esses bens essenciais são extraídos. Os constituintes decidiram tirar da origem a apropriação da receita do ICMS sobre petróleo e seus derivados e energia elétrica, com o argumento principal de que foi a poupança de toda a nação que permitiu os investimentos da Petrobras e a construção das hidrelétricas. Os constituintes deram uma compensação aos Estados que perderiam receita com essa decisão. A compensação veio na forma de participação desses Estados e municípios nos royalties do petróleo e da energia elétrica. Ocorre que os valores pagos a título de royalties do petróleo eram, no início, irrisórios, de maneira que não despertavam a cobiça dos demais governadores. Para se ter uma ideia, o Rio de Janeiro recebeu apenas R$ 56 milhões em royalties em 1998, de um total de R$ 284 milhões arrecadados naquele ano. O forte aumento da produção do petróleo no Brasil mudou esse quadro. No ano passado, o Rio ficou com mais de R$ 6 bilhões de royalties e participações especiais e os municípios fluminenses, com mais R$ 3 bilhões. Com a descoberta das imensas reservas de petróleo do pré-sal, que ficam na plataforma continental brasileira, a perspectiva é de que a receita com royalties cresça de forma exponencial. É natural, portanto, que os Estados e municípios não confrontantes com as áreas da plataforma onde estão os campos do pré-sal também queiram participar do bolo. A decisão sobre o ICMS provocou também outra medida polêmica. Quando os parlamentares definiram os critérios de rateio dos recursos do Fundo de Participação dos Estados, a participação do Norte, Nordeste e Centro-Oeste foi elevada de 78% para 85% sem uma argumentação técnica. Segundo o relator da lei, o então deputado Firmo de Castro, procurou-se, com esse aumento, “distribuir melhor os ganhos da reforma tributária, vez que a ampliação da base de incidência do ICMS beneficiará mais fortemente os Estados mais desenvolvidos do país”. O percentual de cada Estado no bolo do FPE também foi fixado sem critério, tendo em vista apenas circunstâncias históricas. Essa lei foi considerada inconstitucional pelo Supremo e o Congresso terá que aprovar, até dezembro de 2012, nova lei, com critérios que garantam o equilíbrio socioeconômico entre os Estados. Por causa da confusão provocada pelo ICMS na origem, os Estados e municípios estão em confronto aberto pelos royalties do petróleo, como se eles fossem apenas mais uma fonte de recursos para financiar gastos. O petróleo é um recurso que deverá acabar em algumas dezenas de anos. Por isso, os recursos decorrentes de sua exploração deveriam alimentar um fundo público de poupança, destinado a financiar o desenvolvimento do país, com aplicações prioritárias na educação e em ciência e tecnologia. Além disso, é necessário pensar nas futuras gerações, quando as receitas do petróleo já não existirão.

Toda Mídia


Wall Street Journal e Financial Times publicam que o "Brasil corta os juros para estimular crescimento". E ambos destacam o mesmo analista do Goldman Sachs, que questiona a decisão do Banco Central, argumentando com a possibilidade de inflação. Por outro lado, o mesmo "WSJ", o corte "moderado" dos juros já leva à valorização do Real. O "WSJ" informa em longa reportagem, que a "Argentina vê perigo na porta ao lado". Diz que, "agora que a economia do Brasil está desacelerando e sua moeda se enfraquecendo, em parte devido às ondas de choque da crise europeia", as indústrias argentinas temem que o país compre menos. E "a decisão do Banco Central brasileiro, ontem à noite, de cortar juros ameaça ampliar a desvantagem cambial". Também a União Europeia "alerta que o protecionismo emergente atinge o comércio". Em relatório, apontou "as nações BRIC entre as piores culpadas", mas "também destacou a Argentina". O comissário de comércio da UE, mesmo em meio às manchetes sobre a resistência do bloco em adotar medidas para conter sua crise financeira, diz que o "protecionismo representa uma verdadeira ameaça à recuperação econômica".

Demora na Justiça

Só 18% dos processos chegam à fase recursal, afirma estudo do Ipea. A morosidade na Justiça não tem como razão os infindáveis recursos. É o que constatou um estudo do Ipea sobre o custo unitário do processo de execução fiscal, encomendado pelo CNJ. Sempre ouvimos que há morosidade na Justiça porque as pessoas recorrem muito. Recorrem nada! São só 12%. A culpa não é do sistema recursal. Se o processo tiver todas as etapas, ele levará 16 anos! Em média, ele leva oito anos. Demora tanto principalmente porque a Justiça não consegue citar o réu. Ela leva mais de quatro anos para achar o executado. A tentativa de combate à morosidade com o estabelecimento de metas de produtividade na verdade gera uma série de retrabalhos porque os funcionários passam a desempenhar suas tarefas apenas para alcançar a meta, sem qualquer preocupação com a qualidade ou com o resultado. O custo médio de um processo é de R$ 4.368,00, mas o custo médio baseado em atividades é de apenas R$ 1.854,23, o resto não se sabe em quê é gasto, mas uma boa parte pode ser explicada como sendo consequência de uma série de "economias de congestionamento”. Há casos em que o Juiz, para bater a meta, arquiva os processos. Esse é um efeito perverso das medidas de eficiência gerenciais pensadas em desconexão com o trajeto do conflito.

quarta-feira, outubro 19, 2011

Vai faltar grana para o SFH


O BaCen reconheceu que vai faltar dinheiro para crédito imobiliário, se não forem tomadas medidas rapidamente. É hora de criar novos mecanismos de financiamento para o setor imobiliário no País. Hoje, as operações dependem dos recursos da poupança, do FGTS e de instrumentos com menor poder de captação – e estes recursos deverão ser insuficientes para atender à demanda dos próximos anos. Até agora, apesar do forte crescimento da demanda, a oferta de recursos atendeu às necessidades de mutuários e construtores. A poupança, principal fonte de crédito, além de disporem de um saldo da ordem de R$ 320 bilhões, recebem recursos provenientes de acordos sobre o Fundo de Compensação de Variações Salariais e atendem bem à demanda da classe média. E o FGTS, voltado para as faixas de renda mais baixas, dispõe de vultosas disponibilidades, próximas de R$ 90 bilhões. Além disso, os bancos recebem mensalmente o pagamento das prestações de cerca de 3 milhões de mutuários com contratos ativos. Mas, enquanto as operações de empréstimo crescem cerca de 50% ao ano, os depósitos de poupança evoluem a taxas inferiores a 20%. Neste ano, o ritmo de crescimento é ainda menor. Estima-se, portanto, que haja escassez de recursos já em 2012. A proporção do crédito imobiliário em relação ao PIB deverá atingir 6% neste ano – cinco vezes mais do que o porcentual registrado em 2004. Mas 6% do PIB ainda será um volume modesto, comparado ao de outros países emergentes. Estima-se que essa relação deva atingir 11%, até 2015, podendo dobrar novamente até o início da próxima década. Só então o Brasil estará mais próximo do Chile, cuja proporção crédito imobiliário/PIB supera 20%. No Brasil, ao contrário do que ocorreu em outros países, o crédito imobiliário opera em bases muito seguras – as prestações não comprometem mais do que 30% da renda dos mutuários e, de preferência, é adotado o SAC, onde as prestações são decrescentes ao longo do contrato. Os bancos não apenas concedem os créditos, como mantêm esses ativos até o encerramento dos contratos. A questão é manter a eficiência de um sistema em forte crescimento e que depende de variáveis macroeconômicas. O BC vem trabalhando em estreita parceria com os demais órgãos reguladores e entidades representativas do setor imobiliário para definir novos mecanismos de captação de recursos. Mas há empecilhos a serem removidos. Uma hipótese é criar novos títulos, como os covered bonds, espécie de CDBs imobiliários que tiveram boa aceitação na Europa. Mas, para ser colocados, esses papéis teriam de render taxas de mercado superiores às da poupança, que paga ao aplicador 6% ao ano mais TR. Captando a taxa baixa, os bancos poderiam emprestar a juros de 12% ao ano. Se a captação for mais onerosa, o tomador pagará mais. Para o crédito imobiliário, a queda da taxa básica, dos 12% ao ano, hoje, para 9%, em 2012, permitiria lançar novos papéis e assegurar a oferta de financiamentos.

Deixe as coisas precisamente como estão

Os doidos do "Ocupe Wall Street" espalharam-se por 82 países. Em todos os lugares, a pergunta é uma só: qual é a agenda dessa gente? Nesta semana, a "The New Yorker" matou a charada. Cinco banqueiros de cartola empunham cartazes e um deles pede: "Deixe as coisas precisamente como estão." E elas estão assim: os EUA tecnicamente fora da recessão, a taxa de desemprego em 9%, a maior desde os anos 40. Os lucros das corporações no maior nível dos últimos 70 anos, mas os salários bateram no mais baixo patamar desde 1960. Todos os indicadores de renda do andar de cima vão bem, mas querem mandar a conta da ruína para o andar de baixo, cortando políticas sociais. A "patuleia do parque" é o novo personagem da crise. Em 1967, numa marcha contra a guerra do Vietnã, foi proposto que as energias dos manifestantes fossem concentradas para fazer levitar o prédio do Pentágono. O Pentágono não levitou, mas o presidente Lyndon Johnson desistiu de concorrer à reeleição. Em 1989 os tchecos manifestavam-se chacoalhando chaveiros. Nem os "doidos de Wall Street" acham que o companheiro Obama desistirá da reeleição, mas ele parece não ter entendido o ronco da rua. No domingo, inaugurando o monumento a Martin Luther King, disse que não se deve satanizar "todos aqueles que trabalham" em Wall Street. Ninguém está protestando contra todos os operadores, mas contra o que essa turma fez à economia mundial, emprestando dinheiro a quem não podia pagar, na certeza de que o "risco sistêmico" impediria que fossem à lona. Nos anos 80, salvou-se a ciranda dos sábios da banca quebrando-se a América Latina. Agora, os Estados Unidos e a Europa estão provando o velho veneno e não gostam dos seus efeitos. À época, a mágica foi praticada por Paul Volcker. Em 2008, aos 81 anos, ele assessorava Obama. Não havia por que passar a conta adiante, e ele propunha que se baixasse o sarrafo na banca. A certa altura, tratava-se de deixar que o Citibank quebrasse. Obama vacilou, Volcker foi-se embora e o resultado está aí. A sabedoria dos sábios tornou-se maluquice e entraram em cena os doidos, como sábios.

quinta-feira, outubro 13, 2011

Medo de marchas e protestos

À medida em que se alastram e começam a tomar todas as grandes cidades norte-americanas, os movimentos Occupy DC e Occupy Wall Street, começam a preocupar a Casa Branca e, por extensão, o mundo. Mas, o que a conservadora mídia norte-americana não diz, e a nossa muito menos, é que uma das principais reivindicações dos Occupy DC, além do fim das guerras, do desemprego e da preocupação com a questão ambiental, é o modelo privado de financiamento de campanhas eleitorais existente nos EUA. É, esse modelo mesmo, exatamente o que a nossa direita, com apoio da mídia conservadora brasileira - VEJA, FSP, Globo, e seus articulistas e editorialistas de plantão - defende continuar vigindo no Brasil. É esse o sentido dessa campanha despropositada e insana da nossa mídia contra a reforma política e, principalmente, contra o financiamento público de campanhas eleitorais. Lá nos EUA, como aqui, o financiamento privado transformou as eleições em uma corrida ao poder do dinheiro com suas consequências óbvias: um Congresso cada vez mais ligado aos grandes grupos econômicos dirigindo os recursos, programas, obras e licitações, leis e regulamentos - quando não corrompendo. Daí reações do tipo as do pré-candidato republicano à Casa Branca, o conservadoríssimo deputado Newt Gingrich, que procurou tirar o foco do real centro das manifestações ao dizer que elas são resultado de um sistema educacional ruim, que ensina ideias estúpidas. Era de se esperar declarações dessa natureza do deputado Newt Gingrich, até porque, se deixar ele faz uma lavagem cerebral em todos os manifestantes, mas, o receio com os protestos que já chegam até Washington são, também, de que eles venham a se converter naquelas gigantescas manifestações dos anos 60. Como aquela pelos direitos civis, quando o pastor Martins Luther King levou mais de um milhão em marcha a Washington. Só que agora os EUA não têm lideranças com aquele carisma e porte.

Balaio


Já que Juvenal Juvêncio, o Eterno, não tem mais moral para demitir ninguém, é melhor que o perdedor, Adilson Batista, que não deu certo em time nenhum, peça o boné e as contas. Seria melhor para ele e o seu patrão, antes que a torcida perca a paciência e imite a porcada. Não dá mais para ver a camisa do grande TRIcolor paulista, tantas vezes campeã, passeando em campo sem rumo, sem respeito pela sua história. Na reta final deste Brasileirão, o São Paulo parece que joga só para cumprir tabela, não para ser campeão. Mesmo jogando em casa, sempre entra em campo com medo de perder, não para ganhar. Falta alma, falta um esquema de jogo, qualquer um, o time disposto a partir para cima do adversário. Foi assim mais uma vez nesta quarta-feira contra o Internacional, em Barueri. Tem sido assim em todos os últimos jogos. O problema nem é mais ganhar ou perder pontos. É ser covarde, é não ser o São Paulo, o grande time guerreiro que aprendi a amar. Cada vez mais o São Paulo de Juvenal Juvêncio & Adilson Batista está ficando mais parecido com a seleção brasileira de Ricardo Teixeira & Mano Menezes. Não honram a camisa que vestem. Todos eles se merecem e devem ganhar um bom dinheiro para continuar fazendo o que fazem. Só perdemos nós, os Torcedores.