quarta-feira, dezembro 28, 2011

Que venha a França...


Os Intocáveis

Há duas categorias no Brasil acima de qualquer lei: a dos juízes e a dos jornalistasPodem tudo – e para vigiá-los a sociedade não pode nada. É fácil acusar os outros poderes das mais diversas falcatruas. Legislativo e Executivo são diariamente escrutinados pelo faro de repórteres ávidos por uma denúncia. Colunistas propagam, sem provas, as mais clamorosas injúrias. Quando flagrados na má fé, argumentam que são os donos da verdade. Mas quando se trata de esclarecer malfeitos praticados pelos juízes ou pelos jornalistas, aí é um Deus nos acuda. No caso da imprensa, o recurso é manjado: criticá-la é querer exercer a censura, é contariar a liberdade de opiniãoExistem leis que punem as contravenções da imprensa. Mas a imprensa é tão poderosa e tão estridente que estou para conhecer juiz com compostura cívica e coragem ética para enfrentar uma manchete desfavorável. No caso da Justiça, até parecia que havia uma maneira de um país saber – e eventualmente punir – os crimes de toga. Existe um Conselho Nacional de Justiça com supostos poderes de investigar denúncias contra membros da corporação, nem pensar em Conselho Nacional de Jornalismo, né mesmo??? O espetáculo que atualmente presenciamos é da blindagem dos suspeitos da magistratura construída por membros do mais alto tribunal. Investigar abertamente a Justiça é um ato de lesa-pátria, esperneiam os protegidos do silêncio. São 500 juízes e desembargadores que entraram no rol dos investigados pela Corregedora do CNJ: ministra Eliane Calmon. O que fez o Supremo, na voz ilibada do ministro Marco Aurélio Mello? Decretou a censura das denúncias. É como no livro A Privataria Tucana, do Amaury Ribeiro Jr. Em vez de se apurarem as gravíssimas acusações, tenta-se desqualificar o acusador. As entidades da máfia, perdão, da classe agradecem.

terça-feira, dezembro 13, 2011

Tortura Nunca +

Dia 10 de dezembro, marcou o 27º aniversário da Convenção contra a Tortura, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1984 — ratificada pelo Brasil apenas cinco anos depois, justos 48 dias antes do centenário da Proclamação da República. Uma semana atrás o país se deparou com um documento espantoso, o melhor retrato de uma era, a imagem mais emblemática de uma época conhecida pelo chumbo quente da tortura, o símbolo mais cortante dos 21 anos da ditadura que sangrou o Brasil no período de 1964 á 1985. É uma fotografia em preto e branco, como aqueles tempos obscuros, captada na 1ª Auditoria Militar do Rio de Janeiro em novembro de 1970, quando se completava o primeiro ano no poder do General Garrastazú Médici, o líder mais temido da fase mais dura do regime. A revelação pertence ao livro A vida quer coragem, que o jornalista Ricardo Amaral lançará este mês.
O melhor retrato de uma era | Justiça Militar
A foto mostra de lado, sentada sobre uma cadeira sem braços, uma jovem de 22 anos, cabelos curtos, blusa clara de mangas curtas, as mãos entrecruzadas sobre as pernas, vestindo talvez a inevitável calça jeans de sua geração. A fisionomia está séria, fechada como o clima político da época, e o olhar parece absorto sob as sobrancelhas marcantes, quem sabe refletindo sobre os 22 dias terríveis sob tortura a que sobreviveu dez meses antes, ao ser presa pela repressão como integrante da VAR-Palmares, uma das siglas da guerrilha que combatia a ditadura pelo desespero das armas. Três décadas depois, a guerrilheira ‘Estela’ contou ao repórter Luís Maklouf Carvalho, o que lhe passava pela mente, ao lembrar os dias de horror na masmorra do DOI-CODI de São Paulo, o centro que tortura que virou símbolo da barbárie do regime: “Levei muita palmatória, me botaram no pau-de-arara, me deram choque, muito choque. Comecei a ter hemorragia, mas eu aguentei. Não disse nem onde morava. Tiveram que me levar para o Hospital Central do Exército”. O país não conhecia esta foto de ‘Estela’, mas reconheceu logo na imagem inconfundível a figura quase adolescente e já convicta da Presidenta Dilma Roussef, que sobreviveu à tortura e à ditadura para, quatro décadas depois, chegar pelo voto popular ao poder usurpado tanto tempo pelos militares. A cena inédita surpreende pela personagem ilustre, mas é espantosa pela presença de duas figuras ainda anônimas, em segundo plano, que conseguem atrair ainda mais a atenção: os dois juízes militares que roubam a cena da guerrilheira em juízo. Eles vestem a túnica do uniforme do Exército e, com a cabeça baixa, apoiados sobre o braço direito, cobrem o rosto com a mão espalmada, ocultando os olhos e a boca, como se eles é que fossem os réus. Poderia ser um gesto casual, uma mera coincidência, mas é muito mais do que isso. É uma reação coordenada, quase sincronizada, uma ordem unida de desonra, um gestual quase idêntico, um ato reflexo de quem busca o anonimato, de quem procura se esconder, fugir, fingir que não está ali. Ao contrário da moça temerária à sua frente, de cara lavada e mirada quase atrevida, os dois homens fardados ao fundo estão constrangidos, intimidados. Os militares da foto, num sentido estranhamente oposto ao da guerrilheira, estão envergonhados por estarem ali, naquele lugar, naquele momento, expostos à sentença implacável de uma câmera fotográfica. Diante da presença no tribunal daquela quase menina, frágil e torturada, os dois maduros juízes militares escancaram a dolorida consciência de que não serão absolvidos pelo juízo inapelável da História. Por isso, na falta de um capuz, usam as mãos para se esconder. O homem à esquerda é um capitão, o da direita exibe nos ombros os galões de major. Fora da foto, quase em frente à jovem, senta-se o presidente do tribunal, um coronel. Na outra ponta da bancada acomodam-se mais dois juízes militares, os vogais. O fotógrafo anônimo, por alguma razão, estava ali autorizado pelo coronel para fazer o registro da audiência e os dois juízes flagrados por sua lente sabiam do perigo iminente da foto. Assim, trataram de esconder suas identidades, na esperança de que esta canhestra tentativa de fuga à responsabilidade lhes assegurasse o pleno anonimato e a eterna impunidade. Livraram a cara e deixaram seus nomes na clandestinidade, mas assim delataram, na cena muda das mãos, a verdadeira face do regime que representavam naquele tribunal de exceção armado por militares para julgar civis, marca distinta de todo regime autoritário. A imagem envergonhada dos militares que se escondem é a mais dramática e eloquente confissão do crime contra a democracia e os direitos humanos perpetrado pelos generais no golpe de 1964. Apesar da vergonha de seus julgadores, a guerrilheira ‘Estela’ foi condenada a seis anos de prisão. Cumpriu três e, com o recurso, acabou punida com dois anos e um mês de cadeia. “Sobraram 11 meses, que eles não me devolveram. Sou credora do país”, brincou Dilma numa entrevista para a revista IstoÉ.

Às Novas Gerações

Nas ultimas décadas, colecionamos memórias muito ricas. Vivemos e assistimos à extinção de países inteiros, o fim do comunismo e o fortalecimento da democracia em grande parte do mundo. Vimos e vivemos um enorme ciclo de prosperidade e, mais tarde, a maior crise econômica global desde o Crash de 1929. Viver, entretanto, gera impactos. A vida de cada um de nós deixa rastros na memória e na vida dos outros. São as nossas pegadas. É o nosso legado. É impossível saber com antecedência como se lembrarão de nós. Dependerá de qual impacto teremos tido nas gerações futuras. Hoje, este impacto parece ser enorme. E o balanço nada positivo. Parece que ficamos mais individualistas, mais cínicos, menos preocupados com as próximas gerações. Olhando exclusivamente com os olhos de hoje, estamos deixando para as futuras gerações uma terra cujos recursos beiram a exaustão. Um mundo onde o sucesso é ainda definido exclusivamente pela capacidade de consumo. Nunca a humanidade teve tantas possibilidades de provocar sua própria extinção. Nunca, por outro lado, teve tantas oportunidades de se reinventar. Vivemos a era da repactuação, na qual se renegocia nosso contrato com o planeta e com os seres que o habitam. Nunca tivemos, individual ou coletivamente, tanto impacto potencial no nosso futuro e no futuro de nossa espécie. Corremos o risco de extinção, mas temos a oportunidade de renascer. Talvez as gerações futuras olhem para a época em que vivemos agora e tenham uma visão positiva do nosso legado. Talvez olhem para trás e reconheçam um período em que a humanidade construiu um mundo melhor, e, com isso, progrediu. Talvez a humanidade consiga não somente preservar as conquistas das últimas décadas, mas também, promover as mudanças necessárias para a sobrevivência das gerações futuras. Para isso, a humanidade precisa lutar. Porque lutar, é um privilégio.

segunda-feira, dezembro 12, 2011

A Privataria Tucana

Reina estrepitoso silêncio em torno do livro de Amaury Ribeiro Jr. com sensacionais revelações sobre aquele que foi a maior falcatrua com dinheiro público na história do Brasil. A única a quebrar a omertà é a Record, que noticia com o devido destaque. O livro trata do episódio da privatização das teles no governo Fernando Henrique Cardoso.
Amaury Ribeiro Jr. é um repórter investigativo de fino faro. Já ganhou o Prêmio Esso de Reportagem. É um profissional sério e respeitável. A Privataria Tucana traz 323 páginas de pura nitroglicerina. Entre os protagonistas da trama, avulta a figura de José Serra. Junto com Serra, um pequeno círculo de familiares: a filha, o genro, o marido de uma prima do Serra.
privataria tucana A imprensa blinda Serra. O eleitor, não
As acusações são pesadas e volumo$a$. Dão conta de movimentações superiores a 2,5 bilhões de dólares, via paraísos fiscais. Propinas, tráfico de influência, fraude em concorrências, espionagem – tudo está documentado. No eixo das malversações, o conhecido Ricardo Sérgio de Oliveira, caixa das campanhas eleitorais do PSDB. Segundo a Carta Capital o livro é um mergulho no triste Brasil do lodaçal do poder. Insisto: é curioso o silêncio da grande imprensa. Tão pressurosa em divulgar as mais mirabolantes acusações, ela agora trata de proteger o eterno queridinho. O eleitor, no entanto, está ligado. Pesquisa da DataFolha divulgada no domingo, informa que a rejeição a Serra pulou para 35%. Serra é, disparado, o mais rejeitado de todos. Pelo menos o Serra terá o voto da Soninha.

sexta-feira, dezembro 09, 2011

Fundamentos da Política Econômica

Após ter enfrentado com sucesso o auge da crise dos mercados financeiros, dosando a derrapagem e a velocidade do crescimento quando uma boa parte da economia mundial atolava, o Brasil aparentemente está bem preparado para uma nova fase de desaquecimento. Não podemos esperar que nossa economia permanecerá todo o tempo imune aos efeitos da redução dos níveis da atividade no comércio internacional, da produção industrial e tudo o mais que envolve a circulação e o consumo de bens. Isso tudo numa situação complicada pela rigidez dos índices de desemprego nos Estados Unidos e na Eurolândia e a confirmação da “puxada de freio” do gigante chinês. É inegável, contudo, que temos alguns trunfos importantes que nos ajudarão a continuar crescendo em meio à desaceleração global, embora num ritmo menos robusto, mas que não será menor que 3%. Acredito que poderemos amortecer uma boa parte dos efeitos negativos que já se estão produzindo na economia mundial, já que nossa participação no comércio externo ainda é pequena em relação ao PIB, a exportação de produtos manufaturados é bastante reduzida, temos um superávit comercial robusto, uma substancial reserva cambial, que se mantém acima de 300 bilhões de dólares, o déficit fiscal é pequeno e o endividamento público é baixo. A grande lição que já podemos extrair dessa sequência de crises, que a cada semana nos reserva uma surpresa desagradável, aumentando a volatilidade dos mercados financeiros, é que um sólido equilíbrio fiscal de longo prazo e uma apropriada relação Dívida Líquida/PIB são os fundamentos do sucesso de uma boa governança. A percepção desses fundamentos é que dá aos governos a capacidade de reagir com eficiência e competência no momento de lidar com as crises de oferta e procura globais. Gostem ou não gostem os catastrofistas, o Brasil é um sucesso dessa importante lição. Adicionalmente, já no início do segundo semestre de 2011, passou a ser evidente que as medidas prudenciais adotadas pelo governo da presidenta Dilma Rousseff para manter a inflação sob controle foram absorvidas pelos agentes econômicos, renovando as expectativas de retornar ao núcleo da meta até dezembro de 2012. A consequência dessa nova percepção é uma importante redução da volatilidade dos mercados financeiros e o retorno de estímulos aos investimentos do setor produtivo da economia. Não diria que estamos próximos da unanimidade, mas hoje certamente são poucos os agentes que não reconhecem o acerto das ações de política monetária conduzidas pelo Banco Central. O que se convencionou chamar de “Cenário Tombini”, construído a partir da antecipação de defesas inteligentes para enfrentar o desaquecimento da economia mundial, tem mostrado plena adequação não apenas para enfrentar o “vento contra” do exterior, mas principalmente para a retomada dos estímulos ao crescimento da produção e do consumo internos. Tornou possível manter a sequência de redução da Selic, alimentando a expectativa de atingirmos taxas de juro real compatíveis com o objetivo de manter a economia brasileira crescendo em ritmo superior ao do resto do mundo. Nessa última reunião de 2011, o Conselho de Política Monetária, presidido por Alexandre Tombini, cortou mais meio ponto porcentual, baixando a taxa Selic para 11% ao ano. São fatos que me animam a acreditar que, mesmo com a tempestade lá fora, a economia brasileira será capaz de manter o esforço de crescimento com base na expansão do mercado interno, sustentada, em parte, com a inclusão social dos trabalhadores beneficiados com a correção do salário real. A isso se pode somar o esforço do governo no controle das despesas de custeio da máquina pública para permitir a destinação de recursos para as obras de recuperação e expansão da infraestrutura, principalmente nas áreas de transportes e energia. Infelizmente, não há condições de prever até quando a economia dos países desenvolvidos vai continuar beirando o atoleiro. É preciso reconhecer que a falta de estadistas na liderança da imensa maioria dos países ainda vai continuar a retardar, se não impedir, a tomada de decisões para solucionar os graves problemas econômicos e sociais que a imprudência política e a ambição financeira produziram nesses últimos anos.

quinta-feira, dezembro 08, 2011

Margem de manobra

A economia brasileira estacionou no 3º trimestre deste ano. O PIB, em valores correntes, passou de R$ 1 Trilhão. Apesar do freio, ainda assim, na comparação com o mesmo período de 2010, a economia cresceu mais de 2%; nos últimos 12 meses a expansão foi de quase 4%. O resultado era mais do que óbvio em função das medidas de restrição ao crédito, de corte de gastos públicos, R$ 60 Bi no ano, e de aumento da Selic, ante o agravamento da crise mundial. Nesse quadro, as expectativas de aumento da atividade econômica do empresariado e dos bancos de diminuíram. Isso levou a uma redução da produção e de créditoÉ bom frisar que não houve, no período, um agravamento de nossas contas externas. Pelo contrário, nossa Balança Comercial se sustentou, manteve quase US$ 30 bilhões de superávit, e as importações caíram. Outras duas boas notícias são a manutenção das taxas de investimento e da poupançaTemos, ainda, muita margem de manobra para conduzir a economia. "Temos o controle da situação. Diferente de outros países, cujo crescimento cai fundamentalmente pela falta de mercado e por causa da crise, nós, aqui, temos a possibilidade da aceleração do crescimento", afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A presidenta Dilma Rousseff fez questão de frisar: "Não só estamos encerrando o ano com estabilidade e crescimento, mas, sobretudo, com a visão de que 2012 será necessariamente melhor do que 2011, o que não é pouca coisa diante da crise e da insensatez política que vivenciamos este ano nos EUA e na Europa". A Presidenta ressaltou que a nossa situação hoje é muito diferente de muitos países do mundo que ainda estão submetidos às regras do FMI, a uma desregulamentação financeira absurda e à perda de capacidade de seus Estados de agir sobre suas economias. É fato. Por aqui, não adotamos a política sugerida pela oposição e adotada na Europa, recessiva e de desregulamentação dos mercados. O país tem reservas em dólar, reservas dos recursos dos depósitos compulsórios dos bancos, além de margem para ampliar a oferta de crédito. Tudo isso, sem falar nos bancos públicos, que podem e devem se capitalizar, nos fundos de pensão e no Fundo Soberano. Temos, ainda, um câmbio valorizado, que pode se desvalorizar, como já vem acontecendo, bem como um superávit alto. Ou seja, podemos estimular a economia. Há espaço para adotarmos uma política fiscal e monetária. E, de quebra, ainda contamos com o mercado latino e sul americano para expandir o nosso comércio. Mas, principalmente, contamos com o mercado interno e um programa sustentável de investimentos em petróleo, gás, energia, infraestrutura social, urbana e econômica que, ao lado da expansão da renda e do consumo e da criação de empregos, podem manter o crescimento de nossa economia acima dos 4%, mesmo diante da atual crise internacional. E, para sustentar o crescimento é preciso reduzir a Selic. Na verdade, o Banco Central deveria tê-la reduzido antes e com mais velocidade. Também devemos sustentar os investimentos públicos, sem contingenciamentos, e os privados, estimulando o mercado de capitais.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Oportunidade ou Desafio???

É triste ver um grande navio como o Vale Beijing em perigo, com o casco com rachaduras, como está acontecendo no Maranhão. Por mais que se discorde das encomendas navais feitas pela Vale no exterior, não é possível dizer que os erros de engenharia, ou na operação de embarque que levaram a estas rupturas sejam decorrentes desta decisão. Mas o fato é que a imprensa brasileira reduz o tamanho deste desastre, como se a mineradora fosse simples locatária do navio. Não é. Embora não seja, formalmente, a dona do navio o é, na prática, por conta de tê-lo dimensionado e encomendado, junto com outros 7, ao estaleiro sul-coreano STX, na forma de afretamento por 25 anos. Na prática, isso significa a compra do navio, que opera às ordens da Vale por todo esse período. Toda a política de logística da Vale e suas encomendas no exterior são negócios cheios de penumbra e de riscos, que você pode conhecer lendo a matéria de Erick Azevedo, no ótimo Blog Mercante. Um negócio tipicamente “agnelliano”. A direção da Vale não pode e não deve assistir passivamente este episódio no qual, salvo algum detalhe desconhecido, não tem culpa técnica, mas arrosta as imensas consequencias financeiras. Aliás, deste e da negativa de permissão para descarregar do primeiro navio desta série, o Vale Brasil, que teve está atracado em Omã, no Golfo Pérsico. Embora feitos lá fora, e não por falta de capacidade nossa, porque a própria Vale vendeu o navio Docefjord, hoje BW Ford e de bandeira panamenha, terminado em 1986 pelo estaleiro Ishibras, no Rio de Janeiro e com 80% da capacidade dos atuais e problemáticos “Valemax”.

Justiça Social

Dilma está conduzindo duas reformas estruturais: a regulamentação dos regimes de aposentadoria dos servidores públicos, e a concessão de aeroportos à iniciativa privada. A primeira reforma, além de enfrentar o problema do déficit da previdência a longo prazo, estimulará a formação de poupança doméstica, um passo importante para o país depender menos de recursos externos para financiar seu crescimento. A segunda ajudará a aumentar a eficiência da economia. Lula iniciou sua gestão com surpreendente ímpeto reformista. Quis mudar os regimes previdenciário e tributário, além da CLT. No fim, desistiu das reformas tributária e trabalhista, mas aprovou, com dificuldade, a da previdência do setor público, desagradando ao funcionalismo público,uma das bases do PT. Lula considerou tão elevado o custo político daquela reforma que desistiu de regulamentá-la. Depois do escândalo do mensalão, abandonou de vez o projeto. Para se sustentar no cargo, reaproximou-se do movimento sindical, com quem firmou pacto para não privatizar nem fazer concessões ao setor privado no segundo mandato, e manteve-se longe de toda e qualquer medida considerada impopular. É por essa razão que o projeto de lei 1.992, de 2007, adormeceu nos escaninhos do Congresso. O projeto cria a Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal, o fundo de pensão do funcionalismo. Sem a aprovação dessa lei, a reforma da previdência de 2003 não entra em vigor. Além de tirar o projeto de lei do limbo, a Presidenta Dilma determinou que ele fosse analisado em regime de urgência constitucional. A decisão marca a retomada das reformas estruturais. As mudanças na previdência vão reduzir de forma significativa, no longo prazo, o risco atuarial. No curto prazo, como bem lembra a equipe de economistas do Credit Suisse, o déficit previdenciário, hoje em torno de R$ 120 bilhões se levados em conta todos os regimes, aumentará porque o Tesouro Nacional será obrigado a fazer aportes ao fundo de previdência complementar dos funcionários públicos. Com a criação dos fundos de pensão, calcula-se que a despesa previdenciária da União aumentará, nas três primeiras décadas, um pouco acima de 0,10% do PIB em alguns anos. Depois disso, haverá redução do gasto anual em até 0,20% do PIB. As novas regras só valem para aqueles que ingressarem no serviço público após a criação do fundo de pensão. Não alteram, portanto, o status quo dos atuais funcionários públicos, o que torna incompreensível a reação dos mesmos à mudança. Eles continuarão a gozar do benefício à aposentadoria quase integral. Além disso, os futuros servidores não têm o que temer. No novo regime, como todo empregado do setor privado, eles estarão submetidos ao teto pago pelo INSS, hoje fixado em R$ 3.691,74, mas terão o direito de receber complementação de aposentadoria, benefício que, infelizmente, a maioria dos trabalhadores não tem. A unificação das regras de aposentadoria é, além de uma medida econômica relevante, uma questão de justiça social. Enquanto, na média, um trabalhador do setor privado contribui anualmente com R$ 5.621 para o INSS, um servidor público recolhe R$ 7.768 aos regimes próprios do setor público. O problema é que, enquanto o benefício mensal médio recebido pelo funcionário é de R$ 1.733, o do aposentado ou pensionista é de R$ 780.

segunda-feira, dezembro 05, 2011

Planejamento e Gestão

Décadas de instabilidade econômica e crescimento pífio roubaram a crença de que o país adormecido tivesse qualquer futuro e também a capacidade de pensar além do hoje e planejar para construir o amanhã. Na década de 80, num Brasil imprevisível, qualquer previsão econômica parecia impossível. Sem prever, para que planejar? Já que não conseguíamos vislumbrar o que viria, acostumamos a viver como se não houvesse amanhã. A preocupação era com a sobrevivência, não com o desenvolvimento. Até o planejamento mais banal ainda é ignorado. Todo ano chove o suficiente para alagar várias cidades brasileiras. Não é necessário ser um gênio para prever que, se nada for feito, teremos novos alagamentos. Ainda assim, ano após ano, as inundações e os desmoronamentos se repetem e a culpa, claro, é de São Pedro. O país mudou – o crescimento acelerou, a economia se tornou mais estável –, mas nossa mentalidade de não nos prepararmos para o amanhã continua a mesma. A crise econômica europeia chegou à Itália e à Espanha, onde as batalhas finais serão travadas. Os recursos para financiar esses países e capitalizar os bancos ­europeus, cerca de 1,5 trilhão de euros, vão muito além da capacidade da Europa e do FMI de supri-los. Há três formas de lidar com a situação. A primeira envolveria uma megacapitalização do FMI pelos novos donos do dinheiro, os países emergentes, incluindo o Brasil. Esta é a alternativa menos provável, pois os países “ricos” já deixaram claro que não aceitam a perda de poder geopolítico que a mudança de controle do FMI ensejaria. As duas alternativas restantes envolvem uma reces­são global em 2012. Ambas, provavelmente, levarão a Europa a uma década perdida, como a da América Latina nos anos 80. Uma delas é girar a maquininha de fazer dinheiro. Já que ninguém quer financiar países europeus com problemas, o Banco Central Europeu emite moeda para comprar títulos da dívida desses países. Mais de 300 bilhões de euros já foram emitidos; seis vezes mais seriam necessários. Como todo brasileiro com mais de 30 anos sabe, isso acaba em megadesvalorização da moeda e aceleração inflacionária. A outra é um calote, como o recém-praticado pela Grécia. Nesse caso, devido ao tamanho das dívidas de Itália e Espanha, perdas bancárias brutais provocariam uma forte contração da oferta de crédito e uma nova crise financeira global. Uma recessão mundial é muito provável em 2012. Seus primeiros sintomas já se sentem no Brasil, com a indústria se retraindo, a inflação começando a cair e o Banco Central cortando os juros. O cenário econômico será bastante adverso no início de 2012 e o crescimento será baixíssimo, como em 2009. Por outro lado, a economia brasileira se recuperou no segundo semestre de 2009. Em 2010, o país teve seu maior crescimento em mais de 25 anos. É provável que a história se repita e nosso crescimento bata recordes em 2013 e mantenha-se elevado em 2014, ano de Copa do Mundo e eleições. A previsão está feita. Para aproveitar a bonança que virá mais à frente, você e sua empresa precisarão passar pela tormenta, que está próxima. Planeje já, ou depois não reclame da inundação.

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Balaio

Agora que a Licitação do Controlar e os Contratos do Metrô dominaram o noticiário dura, deu para notar uma importante diferença na origem das denúncias. No plano federal, quem toma a iniciativa das investigações, das denúncias e até dos julgamentos, é a imprensa, quer dizer, os grandes veículos de comunicação do país, com interesses econômicos contrariados ou com medo do fantasma do "controle social da mídia". A Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça vão a reboque do clamor da imprensa e da oposição, tomando providências em função do noticiário. Já em São Paulo, dá-se exatamente o contrário. Quem investiga, denuncia e julga são os orgãos competentes e é a imprensa que vai a reboque dos fatos, limitando-se a registrar o resultado das investigações policiais e dos inquéritos do MP. O denuncismo seletivo e o tratamento diferenciado, oferecido pelos jornalões paulistas, acaba se refletindo também nas revistas semanais e nos telejornais de maior audiência, que só costumam repercutir e amplificar as denúncias contra o PT. É verdade que a Folha foi quem levantou a lebre do contrato das obras da Linha 5 do Metrô, ao provar que os vencedores da concorrência já eram conhecidos seis meses antes. Depois disso, porém, ninguém mais foi atrás do assunto, até que a Justiça determinasse a suspensão das obras e o afastamento do Presidente do Metrô. No caso do estranhíssimo contrato da Prefeitura com o Consórcio Controlar para inspeção de veículos, assinado em 2007 por Gilberto Kassab, dez anos depois da licitação feita ainda nos tempos de Paulo Maluf, a imprensa só se interessou pelo assunto depois que o Ministério Público terminou suas investigações e a Justiça tomou providências, decretando o bloqueio dos bens do prefeitoO destaque dado no noticiário às denúncias contra ministros, que já levaram à demissão de cinco deles, é desproporcional aos valores e à natureza dos ditos malfeitos, se comparados aos prejuízos causados aos cofres públicos pelo Metrô, em torno de R$ 300 milhões, e pela Controlar, (R$ 1 bilhão).  Não se trata de mensurar a corrupção, mas de questionar o tratamento desproporcional dado pela grande imprensa a casos de igual gravidade. Só os donos da mídia não estão se dando conta de que, com a internet, não dá mais para ter este tipo de comportamento sem que todo mundo perceba. É isso que explica a crescente perda de freguesia e de credibilidade da velha mídia.