quinta-feira, março 31, 2011

Cápsula da Cultura

Entreatos

O mais bem-sucedido presidente da história do Brasil, também é um sucesso de público, mas não um sucesso de crítica. Agora, por ocasião do voto do Brasil contra o Irã, alguns analistas se apressaram em dizer que Lula foi derrotado. Ou seja, que Dilma fez algo que Lula não teria feito. E, por conseguinte, busca-se isolar o comportamento de Dilma da esfera de influência de Lula. Antes Dilma era uma espécie de "candidata marionete”. Agora, segundo alguns analistas, estaria se rebelando contra o criador. O episódio do Irã seria a prova. Augusto Nunes foi contundente: “A mudança de rota é um soco no peito de Lula, pai da política externa da canalhice.” Ledo engano, má-fé, desinformação ou tudo juntoA “mudança” do Brasil em relação ao Irã não é um fato novo. Muitos sabem que Lula ficou enfurecido com a atitude de Ahmadinejad de melar o acordo costurado sobre as usinas nucleares. Lula cumpria uma missão, a de trazer o Irã para a mesa de negociações, com o apoio expresso dos EUA e da França. A corda roída pelo Irã tirou o apoio dos EUA da operação, que se assemelhava à estratégia “good cop, bad cop”, com o Brasil fazendo o papel de bonzinho. Assim, nunca o Brasil ficou decepcionado com a posição dos EUA na questão. O que irritou Lula foi o recuo iraniano e a puxada de tapete da França da negociação. Inebriado com as promessas de Sarkozy de que França e Brasil seriam aliados eternos, Lula jamais esperou que a França ficasse contra o Brasil. Tal atitude custou a compra dos caças Rafale pela FAB. Mas, vendo as análises sobre o voto do Brasil em relação ao Irã na era Dilma, ninguém, dentre os brilhantes analistas do país, explicou que Lula, em relação ao Irã, não era mais o mesmo. E que, já na campanha, Dilma sinalizou que a questão dos direitos humanos e, em especial, dos direitos das mulheres no Irã, iria merecer sua atenção especial. Daí o voto do Brasil não ser uma “mudança” repentina, mas um processo. Com relação à Líbia, muitos se apressaram em atacar Lula por conta da visita a Kadafi. Todos esquecem que, na sequência da visita de Lula, Bush saudou a volta da Líbia ao convívio das nações. Figuras eméritas da Inglaterra, como Lord Anthony Giddens, o pai da Terceira Via, esteve por lá. Tudo no esforço de trazer o país para o campo do diálogo. Lula também ajudou. Longe de querer dizer que a política externa de Lula foi perfeita e que não houve erros e equívocos, o fato é que quase nunca as análises conseguiram se livrar do preconceito e de um certo oposicionismo mais estético do que de conteúdo.

Corrupção

Ainda no primeiro ano da Era Lula, em 2003, por ordem da presidência da República, a Controladoria-Geral da União começou a sortear municípios para auditar as despesas feitas pelos prefeitos com recursos repassados pelo Executivo federal. Como mais de dois terços das 5.564 prefeituras só não fecham as portas porque recebem recursos de Brasília, por meio dos fundos de participação, acompanhar o caminho percorrido por este dinheiro é fundamental para se medir a qualidade da administração municipal. O resultado das primeiras auditorias foi alarmante: das 131 prefeituras visitadas pelos auditores da CGU, mais de 90% haviam cometido irregularidades na aplicação dos recursos federais. Entre elas, algumas muito conhecidas: superfaturamento por meio de licitações viciadas e gastos com obras inexistentes. O dinheiro, claro, foi para bolsos privados. À época, estimou-se em 30% a proporção dos repasses federais desviados. Cairiam, então, nesses desvãos municipais da corrupção R$ 60 bilhões por ano. Ou o suficiente para sustentar o Bolsa Família por mais de um mandato inteiro, dinheiro suficiente para financiar a revolução na educação básica de que o Brasil necessita de maneira visceral, e ainda sobraria para investimentos na precária infraestrutura do país. Quase oito anos depois, o descaso continua, com destaque para os setores de Saúde e Educação. Nas auditorias nos municípios são nestas áreas que os auditores encontram mais irregularidades. No caso da Saúde, investigações realizadas em repasses feitos entre 2007 e 2010 encontraram um desvio de R$ 662 milhões. Porém, como apenas 2,5% das transferências no âmbito do SUS são auditadas, R$ 154 bilhões do contribuinte foram despejados, no período, em estados e municípios sem qualquer controle. Na posse do governo Dilma, a ministra do Planejamento, Míram Belchior, ergueu como bandeira “fazer mais com menos”. Estes números e várias outras conhecidas evidências de má administração do dinheiro público garantem ser possível atingir a meta do governo. Mas será preciso muita vontade política.

quarta-feira, março 30, 2011

Cápsula da Cultura

Nossa Língua Portuguesa

O gramático Evanildo Bechara, autor da Moderna Gramática Portuguesa, embarca no começo de abril para Lisboa, onde participará de uma reunião com representantes dos países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa para discutir os problemas na aplicação das principais regras do novo acordo ortográfico. Bechara, que ocupa a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras e é autoridade máxima no Brasil quando o assunto é novo acordo ortográfico, lembrará que este ano é comemorado o centenário da primeira reforma ortográfica oficial em Portugal para propor à comunidade uma reunião oficial em setembro ou outubro para “se chegar à maior unanimidade possível em relação ao acordo”:
- Não existe, em nenhuma língua, a ortografia ideial. Mas a proposta é que, assim como aconteceu em 1915 em Portugal, quatro anos depois da primeira reforma oficial dos portugueses, essa reunião consiga resolver alguns pequenos problemas nas novas normas.
A ideia, segundo Bechara, é que os pontos que ficaram de fora e os que foram mal concebidos sejam discutidos e sanados, já que as regras antigas não serão mais aceitas no Brasil e em Portugal a partir de 2012 e 2014, respectivamente.

Exemplos

Dá para falar algo sobre esta greve escandalosa do Judiciário? Falar o quê, diante da ameaça das excelências de parar o Judiciário, se não lhes for concedido um aumento de 15%, o que elevaria o atual salário dos ministros do STF de R$ 26 mil para R$ 31 mil num país onde o salário mínimo foi recentemente reajustado para R$ 545,00? Na verdade, desde ontem eu estava querendo escrever sobre os 100 gols de Rogério Ceni, um sujeito que, na contra-mão do oba-oba e do vale tudo no Brasil do BBB, prova aos mais jovens que ainda vale a pena ser honesto, trabalhar muito para alcançar seus objetivos e vestir de verdade a camisa de quem lhe paga o salário. São dois exemplos oferecidos em extremos opostos da grande geléia nacional, o da inacreditável greve dos juízes e o da dedicação fora do comum do goleiro são-paulino ao seu oficioE o que tem uma coisa a ver com outra? Pois tem tudo a ver. Sou dos que ainda acreditam na educação pelo exemplo daquilo que se pode e daquilo que não se deve fazer na vida. Goleiro não precisa ser artilheiro, mas juíz tem a obrigação de dar o exemplo pela posição que ocupa e pela instituição que representa. Seria mais lógico esperar que o bom exemplo viesse dos nobres membros do Judiciário, um dos três pilares da República, que deram um ultimato ao Congresso Nacional: até o dia 27 de abril, ou sai o aumento ou eles cruzam os braços. Como vivemos no Brasil, o bom exemplo vem do futebol, de um atleta que certamente ganha várias vezes mais do que os juízes que ameaçam entrar em greve. Claro que não dá para comparar o salário mínimo, com os proventos de um juiz e a fortuna paga a um jogador de futebol consagrado. Não me refiro neste caso a valores financeiros, mas a valores morais. Rogério Ceni é sempre o primeiro a entrar em campo para os treinamentos do São Paulo e o último a sair, não faz média com a mídia, não joga a torcida contra a diretoria, assume suas falhas, que não foram poucas, estimula os mais jovens, nunca ameaçou deixar de jogar para receber aumento salarial. Por isso mesmo, foi poucas vezes chamado para a seleção brasileira e não é considerado um campeão de simpatia pelos colegas de imprensa. Tem opiniões próprias, costuma brigar por elas, o que o leva faz muitos anos a ser respeitado e idolatrado. De acordo com o Estadão, não é a primeira vez que a Associação dos Juízes Federais do Brasil recorre ao Supremo para conseguir um aumento. O mesmo aconteceu em 2000, quando o STF concedeu auxílio-moradia aos juízes, o que, na prática, representou aumento de salário e evitou a greve. Agora, a Ajufe defende que o próprio Supremo conceda o aumento “diante da omissão do Congresso”. A briga promete ser boa e longa. O projeto de reajuste salarial do Judiciário ainda nem está na pauta do Congresso. Chova ou faça sol, Rogério 100ni mais uma vez estará em campo nos próximos dias com a camisa tricolor. Viva o cidadão Rogério Ceni! Que os jovens servidores do Judiciário se mirem neste exemplo.

VALE

Com a saída da presidência da Vale, Roger Agnelli terá uma perda substancial em seus rendimentos. Além de dois aviões Citation, um deles comprado recentemente, e de um helicóptero, o executivo deixará de receber R$ 16 milhões por ano, valor que compreende salários e bônus pagos pela mineradora. Os outros oito principais executivos que compõem a diretoria da Vale ganham cerca de R$ 78 milhões por ano. A sucessão de Agnelli será tratada em reunião do Conselho de Administração da Vale. Tito Botelho Martins, presidente da Inco, subsidiária da Vale no Canadá, vai substituir Agnelli. Ações atribuídas à Vale no setor de ferrovias irritaram o Governo Federal, que decidiu endurecer o jogo, acusando a Vale de atrasar o desenvolvimento do transporte de carga no país. A empresa tem a concessão de 11 mil quilômetros da malha ferroviária do país, que é de 28 mil quilômetros, controlando os trechos que levam aos principais portos. Quase toda a malha do país é controlada por três grupos: Vale, CSN e ALL. Para o governo, os dois primeiros, que têm 55% da malha, usam as linhas para beneficiar seus próprios negócios em mineração e siderurgia: cobram caro pelo frete e criam dificuldades para o uso das linhas. A Vale é a segunda maior mineradora do mundo e a maior empresa privada do Brasil. É a maior produtora de minério de ferro do mundo e a segunda maior de níquel. A antiga estatal, criada no governo Getúlio Vargas, é hoje uma empresa de capital aberto Seu valor de mercado é estimado em 200 bilhões de dólares, perdendo no Brasil apenas para a Petrobras (290 bilhões) e se tornando a 12° maior empresa do mundo. Se considerarmos as ações da Previ e do BNDES como de influência do governo federal, este influencia, cerca de 41% do capital votante. A Vale faturou 85 bilhões em 2010, tendo um lucro de R$ 30 bilhões e foi privatizada em 1997 por 3 bilhões de dólares.

quinta-feira, março 24, 2011

Cápsula da Cultura

Brasileirões

O Clube dos 13 fecha o contrato com a Rede TV! para a transmissão dos Campeonatos Brasileiro de Futebol de 2012 à 2014 por R$ 1,6 Bilhões, com a assinatura de 15 clubes, entre eles os devedores da entidade. Você pode dizer que assinar em nome de clubes que pretendem fazer outra opção, acertar com a Rede Globo, é arbitrário. É possível que seja mesmo. Os clubes devedores, no entanto, querem fazer algo como fechar a conta bancária sem quitar o cheque especial. Isso à parte, há explicações a fazer que parecem impossíveis de se fazer. Como o Cruzeiro que ganhava em torno de R$ 25 MM e não consegue dobrar esse valor, assinando novo contrato por R$ 46 MM. Ou o Grêmio, que saltou de valor semelhante ao do Cruzeiro para R$ 47 MM. Mas a explicação mais impossível é a do Botafogo: "No Clube dos 13, estou amarrado a um contrato  que me paga 40% a menos do que o Flamengo recebe", justificou o presidente Maurício Assumpção. No novo acordo, ainda não sacramentado, a Globo oferece ao Botafogo algo em torno de R$ 45 MM. E ao Flamengo, R$ 110 MM. Quer dizer que o Botafogo reclamava por receber 40% a menos do que o Flamengo e agora receberá menos da metade do rival. Quando o futebol brasileiro ficar desnivelado, quando o Botafogo perder concorrências por jogadores para o Flamengo, porque o Flamengo pode pagar o dobro do salário. Nesse dia, você botafoguense, deve perguntar por que seu time se enfraqueceu ao presidente Maurício Assumpção. Fique de olho no presidente do seu time!!!

Gestão de Hércules

A nossa Presidenta assumiu um país que cresce rápido, que surge como nova potência, que será um grande produtor de petróleo, que tem tudo para ser uma das cinco maiores economias do mundo. Assume o poder herdando uma popularidade elevadíssima de seu antecessor, e com um poder político enorme, com um sólido apoio parlamentar. Porém parece que para merecer a imortalidade política no Olimpo, a nossa heroína tem que realizar 12 trabalhos, na mesma linha de Hércules, que, seguindo as orientações do oráculo de Delfos, foi trabalhar para o rei Euristeu, para o qual realizou doze tarefas bastante desafiadoras. Nossa líder, orientada pelo Oráculo Mantega, tenta realizar tarefas que, além de serem extremamente desafiadoras, são em grande parte bastante inconsistentes entre si, ou seja, atingir um objetivo pode significar não atingir outros. Listo abaixo os 12 trabalhos no front econômico a que se propõe nossa líder:
1) Impedir que dólar continue caindo e real se valorize, para proteger indústria nacional;
2) Impedir crescimento do déficit externo gerado por importações crescentes em função de um câmbio barato e de uma demanda interna aquecida;
3) Manter gastos do governo crescendo para manter programas sociais, investimento público e emprego público;
4) Reduzir tamanho da dívida pública federal bruta, reduzindo com isto orçamento de empréstimos do BNDES e mantendo superávit primário;
5) Reduzir carga tributária total, aliviando custo de produção, aumentando produtividade;
6) Aumentar taxa de poupança interna para financiar investimentos necessários;
7) Manter taxa de investimento privado crescente, aumentando assim PIB potencial e taxa de crescimento, sem aumentar inflação;
8) Reduzir taxa de inflação atual e expectativas de inflação futura;
9) Manter desemprego baixo;
10) Manter o nível de consumo da população;
11) Reduzir taxas de juros;
12) Fazer tudo isto, ao mesmo tempo, e sem perder a popularidade.
Estas tarefas individualmente já são árduas, desafiadoras, trabalhos de fato hercúleos. Porém este não é o problema. A realidade dura é que não é possível realizar todos os trabalhos acima ao mesmo tempo: ao realizar um, você reduz a chance de sucesso do outro. Assim, é  fundamental explicitar as prioridades, e entender que não dá para assobiar e chupar cana ao mesmo tempo. Enfim, embora tudo esteja muito bem, a Presidenta se coloca aos poucos numa situação de tantas promessas e compromissos, tentando agradar a todos, sem elencar suas prioridades neste início de governo, o que pode aos poucos miná-la politicamente e começar a criar distorções estruturais na economia que podem resultar em inflação elevada por mais tempo, ou em déficits externos crescentes, ou em carga tributária crescente, ou em dívida pública crescente. Hércules morreu ao vestir uma túnica envenenada por sua mulher Dejanira, que estava com ciúme da relação de seu marido com Iole. Tudo bem que depois ele acaba imortal morando no Olimpo, com Zeus, como prêmio de reconhecimento pelos 12 trabalhos realizados. Nossa Presidenta precisa elencar quais trabalhos ela pretende priorizar em seu primeiro mandato. Não dá para agradar todo mundo o tempo todo não. E precisa tomar muito cuidado com ciúme.

terça-feira, março 22, 2011

Cápsula da Cultura

Memória e Verdade

Esta é a Semana da Memória na Argentina, período em que o país inteiro lembra o golpe militar de 24 de março de 1976. Além da já tradicional marcha que acontece na quinta, entre o Congresso e a Praça de Maio, uma das novidades deste ano é o Primeiro Encontro pela Memória, Verdade e Justiça, que começa hoje, na Câmara dos Deputados. Discutirá especificamente a Operação Condor, plano repressivo coordenado pelas ditaduras do Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai e Bolívia, na década de 1970. Outras manifestações ocorrerão no antigo prédio da Escola Superior de Mecânica da Armada, conhecida como ESMA, onde funcionou o Centro Clandestino de Detenção, Tortura e Extermínio, emblema da última ditadura militar, por onde passaram cerca de cinco mil pessoas. O local, de 17 mil m², não faz parte dos recorridos turísticos tradicionais, mas merece ser visitado pelas pessoas interessadas em entender a história do país. O centro foi transformado em espaço de memória durante o governo do presidente Nestor Kirchner e recebe a visitação de 12 mil pessoas por ano. Lá funcionam o Arquivo Nacional da Memória, o Centro Cultural Haroldo Conti, além das sedes de instituições de direitos humanos como a das Mães e das Avós da Praça de Maio. O chamado Cassino dos Oficiais, para onde eram levados os detentos, permanece intacto. A ESMA é ainda o personagem principal do filme O Prédio, que está em cartaz. O longa documenta a transição do local de centro de tortura a espaço de preservação da memória e, ao contrário do que se poderia esperar, não tem depoimentos nem relatos em off. “El testimonio que me interesa es imposible, porque es el de los que no sobrevivieron”, diz o diretor. Outro destaque da programação é a exposição Vestígios, que pode ser vista AQUI. Amigos e familiares de vítimas da ditadura forneceram e contaram histórias de alguns desaparecidos. Mas os hermanos vão alem das lembranças. Em 2010 a Justiça Argentina registrou uma cifra recorde – a condenação de 110 repressores. Outros 112 serão julgados este ano. Agora falta o Brasil ter a coragem de olhar para trás. Também queremos Memória, Verdade e, por que não, Justiça.

sexta-feira, março 18, 2011

Pescaria Brasileira

Leio nos jornais que a Universidade de Harvard, uma das mais conceituadas do planeta, irá enviar uma missão para o Brasil. A isca é oferecer bolsas para estudantes e professores. O anzol é conseguir recursos brasileiros para ajudar a financiar a Universidade, às voltas com dificuldades financeiras. Vamos combinar: nós sabemos que o Brasil pode se tornou uma potencia, mas ninguém imaginava que já chegou a hora de ajudar a educação dos países ricos. Num país como o Brasil, onde as universidades vivem de chapéu na mão, essa notícia não precisa ser tratada em tom de escândalo, mas como uma piada. Basta percorrer a USP para comprovar a imensa carência de recursos para material, professores, para a indispensável ajuda financeira a estudantes carentes, sem falar nas vagas para novos estudantes, vergonhosamente baixas. Harvard é uma instituição privada, que cobra mensalidades caríssimas da maioria de seus estudantes. Possui um sistema de financiamento junto a elite americana que foi retratado de modo realista no filme Rede SocialComo todo mundo, reconheço a qualidade das pesquisas realizadas em Harvard. Mas a idéia de que os brasileiros devem ajudar a financiar a boa educação americana é uma aberração. Acho difícil contestar que o Brasil deve ser a prioridade para quem ganhou recursos no país. Não faltam boas escolas, públicas e privadas, a espera de donativos que podem ser muito úteis e produzir um retorno muito maior. Do ponto de vista ético, esta prioridade brasileira é uma forma de retribuir a sociedade por benefícios recebidos de forma privada. Ou será que os filhos de empresários e de executivos que se formaram na USP ou nas Federais não devem nem um centavo ao cidadão humilde que carrega o fardo mais pesado de nossa carga fiscal? Reconheço, porém. É chiquíssimo ajudar Harvard, concorda?

quinta-feira, março 17, 2011

Cápsula da Cultura

Economia

O Real é a moeda mais vulnerável do mundo diante da possibilidade de repatriação de recursos pelos investidores japoneses. A afirmação é do estrategista-chefe de câmbio do HSBC, David Bloom. A maior parte das aplicações japonesas está nos Estados Unidos (US$ 118 bilhões), seguidos pela Austrália (US$ 59 bi), Europa (US$ 40 bi) e Brasil (US$ 35 bi). Entretanto, como o mercado de câmbio brasileiro possui a liquidez mais baixa, o R$ surge como a moeda que pode sofrer mais, caso os investidores de varejo do Japão decidam trazer de volta suas economias. Outros analistas argumentam que os japoneses dariam preferência para sacar recursos dos Estados Unidos, exatamente pela facilidade de ser um mercado mais líquido. Além disso, os juros no Brasil são elevados e funcionam como um atrativo para a manutenção do dinheiro.

terça-feira, março 15, 2011

Tea Party


Em meio à euforia que acompanhou a queda do regime de Hosni Mubarak, um jovem engenheiro egípcio manifestava seu júbilo na já lendária Praça Tahrir. Abriu uma faixa de solidariedade: “O Egito apoia os trabalhadores de Wisconsin – Um só mundo, um só sofrimento”. A grande recessão provocada pelos abusos da finança desregulada e fraudulenta deixou a maioria dos estados americanos na tanga. Nos últimos dois anos, as receitas caíram vertiginosamente e as despesas com os direitos assegurados cresceram rapidamente. Barack Obama, às voltas com os falcões republicanos, não encontrou meios para socorrer de forma efetiva os estados mergulhados na crise fiscal. Mas em meio ao festival de grana curta, não faltou inspiração para promover mais uma rodada de redução de impostos aos ricos e às empresas. Definida essa exibição de generosidade, as bordoadas sobraram para os de sempre. Desta vez, os escolhidos para bode expiatório do desarranjo provocado pela finança desvairada foram os Sindicatos de Funcionários Públicos de Wisconsin. O projeto de lei enviado ao Legislativo pelo Governador Republicano Scott Walker elimina a negociação coletiva do rol de direitos dos trabalhadores. Para barrar a investida dos republicanos, cerca de 70 mil trabalhadores, manifestaram sua inconformidade com a lei em Madison. O deputado republicano Robin Voss menosprezou a força dos manifestantes e proclamou “o apoio maciço dos que não estavam na praça”. Um punhado de sequazes do governador Walker, gente sabidamente civilizada e cultivada do Tea Party, tentou uma contramanifestação gritando, “passem a lei, passem a lei”. Foram rapidamente cercados pela maioria que gritava “matem a lei, matem a lei”. Walker joga pesado. Não aceita negociar com os funcionários. Sua intransigência incomoda muita gente no próprio Partido Republicano. Duro na queda, o governador mantém a recusa, a despeito dos sinais emitidos pelos sindicatos de que estão dispostos a fazer concessões. Argumenta o governador que nada tem na mão para ceder. “Assim como quase todos os estados americanos, nós estamos quebrados.” Depois de favorecer as empresas com uma redução de impostos de 117 milhões de dólares, Walker propôs, para cobrir o prejuízo, dobrar o valor da contribuição dos funcionários aos planos de saúde e um aumento substancial no pagamento dos planos de aposentadoria. Isso, naturalmente, além da supressão do direito à negociação coletiva. Os cálculos do Budget Office de Wisconsin asseguram que essas medidas vão proporcionar uma receita de 300 milhões de dólares em dois anos. Os déficits que assolam os estados americanos nasceram, vou repetir, da forte recessão. Até os lêmures sabem que quando o nível de atividade afunda, o gasto privado sofre forte contração e a receita fiscal desmorona, como aconteceu nos Estados Unidos. Bem disse Warren Buffett que os Estados Unidos atravessam um período de intensa luta de classes. “Só que os ricos estão ganhando”, concluiu o bilionário. A revista The American Prospect publicou uma edição especial sobre o declínio da classe média dos Estados Unidos e a descrença crescente da população na realização do sonho americano. Há poucas dúvidas entre os especialistas a respeito da razão central da escalada dos remediados para as camadas inferiores da pirâmide social: a perda de substância industrial da economia. A desindustrialização queimou milhões de postos de trabalho. O transplante de fábricas para a China destruíram o ecossistema manufatureiro. “Desindustrialização não significa apenas despedir trabalhadores e derrubar edifícios. As indústrias ficam doentes e morrem de uma forma muito mais complicada”. Até agora a regressão socioeconômica da classe média secretou mais ressentimentos do que reações políticas, o que engordou as legiões do conservadorismo fanático. Mas nem o fanatismo dos fundamentalistas cristãos americanos consegue sobreviver ao desemprego elevado, à raquítica criação de empregos de baixos salários, para não falar das famílias despejadas das residências retomadas pelos bancos. A sensação de que há algo de podre na Terra das Oportunidades começa a movimentar as frações mais atingidas pela crise. As pesquisas de opinião mostram que, mesmo os republicanos moderados, não só repudia majoritariamente a subtração de direitos como volta sua ira contra os verdadeiros responsáveis pela crise, os senhores de Wall Street. Chris Weigand faz previsões tão sinistras quanto prováveis: “Estamos chegando muito próximos de uma situação em que os serviços públicos que cuidaram dos americanos por muitas gerações estão perto de desaparecer”. Usurpando a função dos repórteres, passei a indagar de conhecidos e outros nem tanto se, por acaso, tinham notícia do que ocorria no estado de Wisconsin. “Provavelmente uma forte nevasca”, respondeu um cidadão que mastigava uma coxinha junto ao balcão. Esse, ao menos, sabia das condições climáticas da região. À maioria esmagadora dos brasileiros, inclusive às classes abastadas, sempre presunçosas da excelência de sua formação e informação, foram subtraídas incompreensivelmente as notícias sobre os acontecimentos em Wisconsin, Indiana e Ohio.

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Em audiência com a presidente Dilma Rousseff, nesta segunda-feira, o presidente do Conselho de Administração do BG Group, Robert Wilson, anunciou um investimento no Brasil de US$ 30 bilhões até o fim desta década, além da implantação do Centro Tecnológico Global, no Rio. Ele disse ainda que a empresa vai participar da próxima licitação para exploração de petróleo fora da camada do pré-sal.
O BG Group já investiu cerca de US$ 5 bilhões no Brasil. Nossos planos para o restante da década é de pelo menos outros US$ 30 bilhões. Eu espero que tenhamos oportunidade de investir além disso, porque pretendemos participar da próxima rodada de licitação que envolve a exploração fora da camada pré-sal. Essa não é a rodada do pré-sal, mas achamos que vai acontecer até o fim do ano, disse Wilson.

Cápsula da Cultura

Fenômeno


João Gilberto tem um ótimo motivo para deixar para lá as agruras e espairecer um pouco. Os mais próximos e os bem informados sabem que o mestre da Bossa Nova parou de olhar só para os barquinhos, as tardinhas e as morenas que passam pelo Leblon. Para surpresa de fãs e dos pouquíssimos que desfrutam de sua companhia, o bardo declarou que é quase viciado em lutas de vale-tudo ou, mais precisamente, Mixed Martial Arts, MMA para os íntimos. Brigas nunca mais. Lutas todos os sábados à noite. Aviso então ao mais ilustre morador do Leblon: agora o nome do cara a observar é José Aldo. Sim, porque enquanto nos corredores de academias, nas rodas em escritórios, bares e praias a conversa continua em torno do famigerado chute à La Steven Seagal, desferido pelo megacampeão Anderson Silva para nocautear de forma fulminante o excelente Vitor Belfort, o mundo cada vez mais elástico e numeroso dos interessados em lutas mistas só tem olhos para este pequeno amazonense. Aos menos familiarizados com o assunto e vendo-o entre os gigantes do ringue, seus 1,71 m e 66 kg parecem equipamento insuficiente para subjugar até o mais fraco dos oponentes. Engano. Num ano com efemérides incríveis como a vitória de Mauricio Shogun na revanche contra Lyoto Machida e o próprio confronto Silva/Belfort, Aldo foi eleito o melhor lutador do ano pelo fórum de especialistas do UFC, entidade que organiza e explora a atividade. Aldo é considerado pelos próprios nomes citados acima como um dos mais eficientes lutadores que o mundo já viu. De fato, o moleque, filho de um pedreiro que bebia demais e de uma senhora batalhadora que apanhava do marido, que deixou a casa aos 16 anos, seguiu para o Rio sem nada nos bolsos, viveu de favor dormindo em tatames de academias com goteiras e trabalhou como copeiro em troca de pratos de comida, se transformou numa das mais eficientes máquinas de luta de que se tem notícia. Sua extrema habilidade na luta de chão (jiu-jítsu) se une à eficácia absoluta de seus chutes e socos (muay thai). Tudo isso ao mesmo tempo, agora, já. Numa de suas 19 lutas e 18 vitórias, nocauteou o adversário aos 7 segundos do primeiro assalto. Depois de ter morado um bom tempo na favela Santo Amaro, no Rio, hoje Aldo vive com bastante conforto, ganhando patrocínios respeitáveis e circulando pelo mundo, por onde as lutas do UFC têm andado, incluindo o Brasil, que no meio do ano voltará a sediar uma das etapas do evento.

Durma tranquilo


Há mais de 30 anos, a China cresce a um ritmo de quase 10% ao ano, causando inveja e alterando toda a ordem econômica global. No Brasil, a crescente importância da economia chinesa é visível a olhos nus. Examine os produtos à sua volta neste exato momento e encontrará as inevitáveis etiquetas de made in China. Desde 1999, a corrente de comércio entre Brasil e China saltou de US$ 1,5 bilhão para mais de US$ 55 bilhões. De carona na fome chinesa por nossas matérias-primas e na sua oferta abundante de capitais baratos para financiar investimentos e consumo no País, o Brasil dobrou seu ritmo de crescimento nos últimos sete anos para cerca de 5% ao ano. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste têm sustentado taxas de expansão bem maiores. Vários setores, em particular o imobiliário, o automotivo e o agronegócio crescem em ritmo de dar inveja até aos chineses. Este crescimento acelerado colocou o Brasil em posição de destaque. Na última década, o País passou de quinto a segundo maior exportador do agronegócio no mundo, multiplicando por seis o superávit comercial do setor, passando de US$ 10 bilhões a mais de US$ 60 bilhões. O crescimento do interior do País não deixa nada a dever ao dragão asiático. No setor automotivo, a história não é diferente. De 2003 para cá, as vendas de automóveis no País aumentaram quase 150%sustentando uma média anual de crescimento de quase 14%, passando de 1,4 milhão a 3,5 milhões de unidades. O Brasil pulou de oitavo para quinto maior mercado de automóveis no planeta. Se o crescimento continuar parecido até a Copa do Mundo, teremos o terceiro mercado mundial de automóveis. Ainda assim, o número de automóveis por habitante no Brasil será três vezes menor do que nos EUA. Quem você acha que continuará crescendo? A importância do Brasil para as montadoras é também cada vez maior. Há anos, a Fiat já vende mais automóveis aqui do que na Itália. Talvez ainda neste ano, a Volkswagen venda mais automóveis no Brasil do que na Alemanha. Para a GM, o Brasil já é o terceiro mercado consumidor. Aliás, o primeiro é a China, que você achava ser o país da bicicleta, onde a venda de automóveis era 1/10 da dos EUA há dez anos, mas há dois anos tem superado o tradicional país do automóvel. A mesma coisa acontece no setor imobiliário. Enquanto a contração nos mercados americano, europeu e japonês parece não ter fim, o mercado brasileiro vive o melhor momento da história. Nos EUA, são vendidos hoje menos imóveis do que há 50 anos, cinco vezes menos do que há quatro anos. No Brasil, é impossível ir a uma cidade e não encontrar um mar de canteiros de obras. A alta de preços dos imóveis ao longo dos últimos anos foi causada pela abundante oferta de crédito e consequente multiplicação dos compradores. Aliás, é a expansão de crédito e renda nos países emergentes, onde o endividamento ainda é baixo, que deve manter esse quadro inalterado na próxima década, apesar de inevitáveis solavancos ao longo do caminho. Você anda preocupado com as recentes manchetes comparando a alta de preços de imóveis no Brasil com a bolha imobiliária americana? Saiba que o crédito bancário ao setor imobiliário no Brasil não chega a 4% do PIB, 30 vezes menor do que nos EUA e 45 vezes menor do que na Suíça. Durma tranquilo em seu apartamento novo. 

quinta-feira, março 10, 2011

Cápsula da Cultura

Combate a Inflação

Embora eu ache que o risco da inflação se elevar ainda mais não seja desprezível, eu aprendi ao longo destes anos de business que políticos pensam de forma diferente . Logo, tentei vestir os sapatos dela e ver como ela deve estar vendo esta situação:
A. Herança Lulística: o nosso líder deixou uma economia superaquecida, andando claramente acima do seu potencial, com inflação subindo, e gasto público voando, além de um BNDES emprestando muito, é óbvio que uma pessoa com a competência técnica da Dilma sabia disto. E ela se beneficiou disto nas eleições. Porém brecar um trem que vem nesta velocidade não é fácil e pode ter um custo bem grande em termos de queda de produto e de popularidade, que estava no pico com Lula. Uma queda maior de popularidade pode enfraquecer seu governo junto ao congresso e dificultar a aprovação de medidas e de reformas no momento em que Dilma estaria mais forte. Logo, esfriar a economia é um problema político.
B. Guido não é exatamente um sujeito que tem estômago ou vocação para políticas de austeridade. E ela sabe que exigir isto dele pode causar mais confusão. E o novo BC é menos efetivo em comunicação e gestão das expectativas do que o anterior, pois teme a retaliação política do PT, que está cada vez mais forte. Logo, aqui ela vê claramente um risco de execução, algo que Lula não teve que encarar com Palocci e Meirelles em 2003.
C. Não se sabe o efeito combinado da(s):
1. Quebra do Panamericano na oferta de crédito pelos bancos médios com muitas dificuldades de funding;
2. Redução da oferta de crédito pelo BNDES;
3. Medidas de corte de gasto, e seu tamanho real, sobre a demanda privada;
4. Forte apreciação cambial real que temos vivido. Câmbio aqui não anda, porém IGPM anda 10%aa. Logo, podemos dizer que há sim uma valorização real do R$. Esta valorização pode ter efeito bastante perverso na indústria;
5. Recente aceleração inflacionária sobre renda real das famílias que pode reduzir demanda e consumo;
6. Medidas prudenciais de restrição ao crédito e ao consumo;
Como é muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, e a maioria por escolha do governo, fica duro avaliar quais os efeitos de tudo isto sobre a inflação e atividade econômica. É como dar 6 remédios ao mesmo tempo a um paciente com dor de cabeça forte: não se sabe qual fará efeito, e qual será o efeito colateral adverso que tal combinação de remédios pode trazer ao organismo a longo prazo. A chance da dor de cabeça acabar é grande, porém não se sabe em quanto tempo e a que custo.
D. Dilma é bastante sensível ao apelo dos empresários que nunca ganharam tanto na vida. A última coisa que eles querem agora é uma economia mais fria. Eles são da linha que uma inflaçãozinha não dói.
Assim, levando em conta estes fatores, é provável que Dilma adote uma política mais cautelosa no combate a inflação, o que pode levar a um processo mais longo, e assim mais custoso em termos de PIB potencial de longo prazo, pois é provável que, neste cenário, o investimento privado se desacelere mais rápido do que o consumo, como os dados sobre atividade já nos mostram. O que a maioria das pessoas não percebe é que uma pancada mais forte e mais rápida no juro reduziria expectativa de inflação mais rapidamente. Isto permitiria um ciclo mais curto de ajuste o que reduziria o impacto negativo no investimento e no emprego. Se ciclo de ajuste for longo, empresários tendem a rever e adiar seus planos de investimentos e empregos.

Parceria para reduzir custos

A Petrobras e mais cinco grandes conglomerados privados acabam de dar um bom exemplo de como fazer parcerias rápidas e eficientes para reduzir custos diretos e indiretos de produção e distribuição, com ganhos para toda a cadeia de logística e transporte que tanto precisa ser dinamizada em nosso país. A estatal e seus cinco parceiros privados com atuação no setor de álcool constituíram a Logum, que programa investir R$ 6 bi até 2020, quando deverá atingir a capacidade de transporte de 22 bilhões de litros do produto via operação de um duto de 1.300 km interligando Goiânia-São Paulo-Rio de Janeiro. O esquema de transporte vai operar em conjunto com outros modais, com a captação do álcool por rodovias e com parte de sua produção escoada até as capitais pela Hidrovia Tietê-Paraná. O novo conglomerado calcula uma redução de 20% no custo de transporte do etanol pelo novo sistema. Boa parte da produção será feita pelos próprios sócios. A Logum é formada por Petrobras, Odebrecht, Cosan e Copersucar, cada uma com 20% das ações, mais Camargo Corrêa e Uniduto, com 10% cada.

quarta-feira, março 02, 2011

A Conquista do Oeste

Pistoleiros atiram em direção a um automóvel com duas mulheres, um adolescente e três crianças de até 11 anos de idade. As vítimas são indígenas que acampavam em terra sob disputa com latifundiários. Os bandidos raptam sete outros índios. Torturam-nos. Puxam pelo cabelo e espancam uma mulher grávida de sete meses. Esfacelam a coronhadas a cabeça de um cacique de 73 anos. Tentam queimar vivo seu filho. Fogem. Alguns deles são presos posteriormente. Procuradores federal consideraram que, no estado onde os crimes aconteceram, não há condições para o julgamento dos acusados. A imprensa local e o juiz responsável pelo caso tratam os indígenas de forma abertamente racista. Embora pareça, este não é o roteiro de um filme sobre a conquista do oeste americano. O ataque dos 40 pistoleiros de fato ocorreu. No Brasil. Deu-se no Mato Grosso do Sul, em 12 de janeiro de 2003, na Fazenda Brasília do Sul, município de Juti, a pouco mais de 300km ao sul da capital Campo Grande.

Leia a íntegra do artigo em Roteiro da tragédia kaiowá no Brasil

Alemanha

A Alemanha é um país que preza a educação acima de tudo, tudo mesmo. Nos pacotes econômicos lançados por Angela Merkel todas as áreas da economia recebem cortes de gastos com frequência, menos a educação. Em muitas ocasiões percebo também que a escola é muito mais importante que família ou lazer na vida das crianças. O mercado é competitivo, os pais querem que as pobres criaturas aprendam inglês desde os 6 meses de idade em creches onde o aprendizado é intensivo. Sendo assim, o que você me diria se soubesse agora que 14% da população alemã é constituída de analfabetos funcionais? E 4% de analfabetos? Logo no país da educação? Sim, são 7,5 milhões de analfabetos funcionais, 60% homens, que não conseguem ler ou escrever mais de uma frase de uma vez. Este é o número que uma pesquisa da Universidade de Hamburgo revelou essa semana. O resultado está na capa de todos os jornais e provocará discussões ao longo dos próximos meses. Porque com educação na Alemanha não se brinca. Ou se brinca? Com suas creches, ensinos fundamental e médio e Universidades gratuitos e de qualidade, totalizando um sistema educacional eficiente e democrático, fica difícil entender um negócio desses. O analfabetismo funcional se caracteriza pela incapacidade de ler um texto fácil ou escrever mais de uma frase com coesão. Mas existe um outro nome mais chique e menos pejorativo para caracterizar o analfabetismo funcional pelas terras evoluídas do velho mundo. Se chama iletrismo, e se diferencia do analfabetismo justamente porque os “iletrados” já foram à escola, até conseguiram terminar o ensino fundamental, mas se perderam no meio do caminho por causa de variáveis familiares, sociais e escolares. Na Suíça são 800 mil analfabetos funcionais, opa, iletrados, em uma população de quase 8 milhões de habitantes. O alemão, a língua da ciência, da filosofia e do conhecimento se perde aos poucos porque a população escreve cada vez pior e lê cada vez menos. A Ministra da Educação, Annette Schavan, agora planeja investir 20 milhões de Euros em um programa de alfabetização no mercado de trabalho e na aplicação de testes de alemão em empresas e instituições, coisas que antes só constava no currículo de imigrantes.

Cápsula da Cultura

Não para, não para, não para...

Impulsionada pela demanda, a indústria brasileira registrou forte expansão da produção em fevereiro. Segundo o índice PMI HSBC, que passou de 53 pontos em janeiro, para 55 pontos no mês passado, o ritmo de crescimento foi o maior desde 2010. Conforme o relatório do banco, o resultado foi em grande parte impulsionado pelo mercado interno, tendo em vista que o aumento em novas vendas de exportação foi modesto. Ainda assim, o volume de novos pedidos foi mais rápido do que a produção, o que reduziu o estoque do setor. O desempenho fez as pressões sobre a cadeia de abastecimento seguirem fortes durante o período, alongando os prazos de entrega dos fornecedores para dezenove meses. Em relação à inflação, o relatório destaca que a taxa de inflação de custo de insumos foi a mais forte em oito meses, com as empresas monitoradas registrando preços mais elevados para vários de produtos.

Marolinha

O consumidor brasileiro parece não ter se dado conta das medidas de contenção do crédito adotadas pelo governo. Em fevereiro, as vendas de veículos, um dos termômetros utilizados para medir a atividade econômica, seguiram a tendência dos últimos meses e encerraram o período com mais um recorde. Até sexta-feira, as vendas de automóveis e comerciais leves totalizavam mais de 240 mil unidades, 18% a mais do que no mesmo período do mês anterior. Trata-se do quinto recorde mensal consecutivo do setor. Se comparado ao resultado fechado de janeiro, 230 mil unidades, o crescimento é de 4%. Porém, como a média diária de licenciamentos, em fevereiro, está em 13 mil unidades, o setor espera ao menos 260 mil automóveis comercializados no mês. Ou seja, em um cenário mais conservador, as vendas encerraram o mês em alta de quase 13%. No ano as vendas estão em 490 mil unidades, o que significa uma alta de 19% em relação a 2010. A previsão da Anfavea para 2011 é de uma alta semelhante ao crescimento do PIB, entre 4% e 5%.

Lula lá

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez sua primeira palestra para executivos e clientes da fabricante de eletroeletrônicos coreana LG. Nos bastidores, calcula-se que o valor pago pela empresa a Lula é de R$ 100 mil. Após a apresentação de 40 minutos, na qual falou sobre macroeconomia, o ex-presidente junta-se ao presidente da LG, Chris Yi, a executivos de alto escalão da empresa e a alguns clientes selecionados para um jantar. Entre os convidados, estão representantes das maiores redes varejistas, como Casas Bahia, Magazine Luiza, Fast Shop, Ricardo Eletro e Extra. Ainda no governo Lula, a LG articulou o lançamento de três novas fábricas, duas em Manaus e uma em Paulínia, no interior de São Paulo. A LG quer mostrar proximidade do governo para conseguir alavancar – agora com produção local – as vendas em linha branca, produto antes considerado como “de vitrine” pela empresa.

terça-feira, março 01, 2011

Cápsula da Cultura

Democracia Facebuquiana

Nesse momento, muitos lugares são palcos de revoltas populares, potencializadas pelas redes sociais. As comunidades rebeldes não estão organizadas em torno de grandes líderes, de bandeiras ideológicas ou religiosas. Parece que o pessoal quer mesmo emprego, dinheiro no bolso e sinal de Wi Fi estável. Fosse eu, no lugar dessas juntas militares que estão assumindo o lugar dos ditadores, prestaria muita atenção nos desejos do povo. Eu trataria logo de bajular as populações, instituindo o que chamaria de democracia facebuquiana. Na democracia facebuquiana, todos seriam obrigados a aceitar como amigo todo e qualquer cidadão de seu país. Nem aquele cunhado que lhe deve dinheiro poderia ser ignorado. De tal forma que qualquer indivíduo poderia propor uma nova lei ou emenda. As votações seriam simples, no esquema curtir ou deixar de curtir. As que tivessem mais curtir obviamente seriam aprovadas. Como primeira consequência favorável, o Poder Legislativo poderia ser extinto. E como efeito colateral indesejado, seria o fim da divertida TV Senado. A população trabalharia só um turno, para que no outro pudesse participar das votações e da vida alheia, algo que já acontece em muitas empresas. O Ministro da Agricultura seria escolhido pelos seu talentos apresentados no Farmville e o da Segurança no Mafia Awards. As demais pastas seguiriam com os habituais incompetentes. Não se pode mudar tudo de uma vez só. Quem marcasse uma foto ou imagem com mais de 15 nomes seria sumariamente preso, sem direito a fiança. Por incrível que pareça, o grande obstáculo para implementar essa ideia seriam os aniversários. Pois cada cidadão precisaria de um mês de férias para responder a todos os cumprimentos. O que resultaria num impacto negativo da economia. Mas esse é o preço a se pagar pela maior participação popular.